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quarta-feira, 25 de agosto de 2021

"Gostos não se discutem"

Há frases feitas, chavões sem conteúdo que todos temos tendência a usar como fuga à realidade. Um deles é que "os gostos não se discutem" ou numa abordagem mais dissimulada devemos respeitar os gostos de toda a gente. Não. Não devemos. Ninguém pode exigir-me que respeite  o gosto do Senhor Ascenso Simões para quem o Padrão dos Descobrimentos é um mamarracho que deveria ser destruído....Há quem goste do gosto e não é só certamente a Leila Lakel que terá decidido pichar o referido monumento. Isto não é mais do que um exemplo. Curiosamente, quem é tão tolerante com tais afirmações passa o dia a falar do vestido horroroso que a fulana levou à festa, da forma esborratada como a outra se pinta, da sala ou cozinha foleira da vizinha, enfim, de tudo quanto desagrada ao seu gosto que entende não ser discutível. Pois bem. Eu penso que há bom e mau gosto e em virtude do aludido chavão cada vez o mau gosto ocupa um espaço social maior. Pena. Podem continuar a repetir que os gostos não se discutem, mas eu jamais confundirei um rapper ousado e ôco ou um qualquer aspirante a estrela de rock and roll, ignorante e sem talento  com Mozart, Vivaldi, The Beatles e tantos outros com talento, com conhecimento e com criatividade. Quem diz na música diz em qualquer outro ramo artístico, científico, tecnológico ou até desportivo. Podem entender que os gostos são todos igualmente respeitáveis ou que não se discutem, mas não podem impor-me que eu partilhe dessa imbecilidade.
 

terça-feira, 17 de agosto de 2021

"Aguentem aí irmãs!"


 Hesitei no título destas linhas: entre o sério ( Ocidente, Afganistão e Islamismo ) e o cínico ( aguentem aí irmãs!). No último caso, com a devida vénia a Varufakis, ( o syrizano ex-ministro grego das finanças). Deverei acrescentar que o pedido de citação envolveria também a primeira parte do seu post: o imperialismo ( neo-liberalismo foi definitivamente derrotado). Brilhante, não é? Os mesmos que insultaram os ocidentais e particularmente os EUA a propósito da invasão, agora  falam, naturalmente, em derrota humilhante, em responsabilidade moral de Biden que fará boomerang e noutros ditirambos afins. As (e os) mee-too estão em silêncio, para já. Que dirão? Como o syriza e os irmãos bloquistas esfregarão as mãos pela derrota definitiva do imperialismo? Face a isto, a escravidão feminina, quer infantil quer adulta, contará pouco seguramente. Aguentem aí irmãs! O enigma não é pequeno. Queiramos ou não, a vida das mulheres parece ser um inferno na maioria esmagadora dos países islâmicos. Parece, repito. Porque a vida tem-nos ensinado nos últimos tempos ( pandémicos ou pindéricos) que há quem goste de ser escravizado, vilipendiado, humilhado. Num arremedo do aforismo marialva: quanto mais me bates mais goste de ti. De todos os modos. E os governos também gostam de povos  submissos, como temos comprovado nos últimos tempos. Um Nazi famoso dizia que basta meter-lhes medo para fazer tudo o que se queira de um povo. Teria razão, pelos vistos. A Liberdade encontra poucas, muito poucas vontades determinadas a defendê-la-
Vamos ao que importa. A rapidez com que os estudantes de teologia ( talibâs) tomaram de novo o Afeganistão demonstra que, de facto, o exército não se dispôs sequer a enfrentá-los, quanto mais a lutar pela liberdade ou pela democracia. Logo, Biden tem razão, como há muito se sabia. O exército afegão teve, como poucos, uma ajuda simplesmente fabulosa do Ocidente e especialmente dos USA. Em material, em treino militar, em auxílios monetários e de toda a espécie. Como Biden acaba de dizer, há aliados na NATO cujos exércitos têm menos meios do que aqueles que foram dados ao exército regular do Afeganistão. Ora, o que aconteceu foi a corrupção e a cobardia no mesmo exército como nos responsáveis políticos. Quem acredita que em meia dúzia de dias uns tantos criminosos podem tomar o poder sem a ajuda ou pelo menos a inacção do exército regular? A ingenuidade do presidente americano, dos seus consultores e da sua administração foi acreditar que seria possível uma retirada ordeira. Claro que até nisso, aqueles que viveram à custa do Ocidente durante duas décadas, tudo fizeram para que a retirada fosse o caos a que assistimos. Os talibãs entraram em Cabul com humvees do exército regular. Para possibilitar que todos quantos pretendem destruir o nosso meio de vida pudessem agora gritar os impropérios que  a maldade,  o cinismo e o populismo dos esquerdistas aproveitam sempre com gozo evidente. Até Trump, que negociou a paz com os talibãs, já pede a demissão de Biden! É preciso ter lata! Como os dois se atraem?! Trump e Varufakis. É preciso dizer mais? Não gosto muito, mas aí vai mais uma citação para memória futura. O PCP dizia aquando da crise da dívida soberana e do exibicionismo do então ministro grego que o seu erro ( do governo do syrisa) foi não retirar a Grécia do Euro. Quando aprenderemos?  

quarta-feira, 11 de agosto de 2021

Covid 19: os meus anticorpos são melhores do que os teus.


 Covid 19: começou a corrida à 3ª dose nos chamados países ricos. É vergonhoso. E é estúpido. O egoísmo embotou de tal forma a sensibilidade e a inteligência que aceitamos todas as imbecilidades com um amorfismo triste.  O combate a este vírus tornou-se uma espécie de liga dos anticorpos. Ninguém se interroga já sobre esta corrida estúpida e irracional. Combater o virus que causa esta doença não pode transformar-se numa corrida para ver quem é capaz de criar mais anticorpos. Numa espécie de os meus anticorpos são melhores que os teus. A humanidade sempre viveu com vírus e o corpo humano sempre os combateu. A evolução científica é, obviamente, muito importante, Vital. A criação em pouquíssimo tempo das vacinas que nos permitem enfrentar com esperança este vírus que nos tem atormentado há mais de ano e meio é um hino à ciência, ao trabalho e à dedicação de muita, muita gente. Devemos encarrar tal facto com orgulho e com esperança. Os países mais ricos têm já metade ou mais da sua população vacinada. É importante que continuem a trilhar este caminho. Mas toda a gente bem informada sabe que não combateremos eficazmente este vírus -e nenhum outro, provavelmente - enquanto toda a humanidade não estiver minimamente imunizada. O mesmo é dizer enquanto a hmanidade não estiver vacinada. A prioridade, agora, tem de ser a de abastecer de vacinas todos os países, tenham eles ou não capacidade financeira para tanto. Como os responsáveis da OMS têm dito vezes sem conta, ninguem estará verdadeiramente seguro enquanto a humanidade não estiver segura. Também aqui, sobretudo aqui, o egoísmo acabará por prejudicar todos os países. Se os responsáveis fossem um pouco - apenas um pouco - além de palavras grandiloquentes, compreenderiam isto, defenderiam isto e tentariam convencer as populações dos países que é suposto governarem. desta realidade insofismável. Tenho vergonha quando oiço reclamar a 3ª dose quando é sabido que a maior parte da humanidade não recebeu sequer a dose ou doses indispensáveis a uma protecção razoável. Os anticorpos diminuem passados 3, 4, 5 ou 6 meses? É natural. Mas algum cientista sério afirmou já que essa diminuição de anticorpos significa a total ou mesmo significativa desprotecção face à infecção? Sabemos outrossim que a vacina nada mais faz do que proteger contra as formas severas da doença. Uma pessoa imunizada pode ser contagiado e contagiar outros. Mas parece estar, efectivamente bastante bem protegido contra as formas mais severas da doença. Como acontece com todas as doenças virais ou com a maioria delas Temos de aprender a viver com este virus como aprendemos a viver com os outros, enquanto a ciência não conseguir irradicá-lo definitivamente. Aprender isto. com inteligência e bom senso, significa agirmos determinadamente para que toda a humanidade seja vacinada. Todos quantos queiram. Antes da 3ª dose e antes da vacinação para os mais jovens que só muito excessionalmente são atingidos por formas graves da doença. Porque aprender a viver com o virus significa também querermos para nós a protecção que concedemos a todos os outros. Isto não é sequer altruísmo. Repito, isto é apenas inteligência e bom senso. Não podemos permitir que a pandemia nos roube a liberdade. Melhor. Não podemos permitir que nos roubem a liberdade em nome da pandemia. Mas também não podemos permitir que o egoísmo e a estupidez nos empurrem para o abismo. O processo de vacinação não pode transformar-se na triste superliga dos anticorpos.