Bom. Cada acontecimento com alguma repercussão social, gera uma onda com uma ou várias vagas com a qual a comunicação social nos massacra até à exaustão. Como tudo na vida, as vagas vão-se esvaindo com o tempo. Mas todo o cão e gato quer apanhar o pico da onda que os tempos são muito céleres e a onda é para surfar. A última onda foi a Jornada Mundial da Juventude. Teve três vagas que me tenha apercebido. A primeira foi há meses e o desperdício de dinheiro público era então a crista. A segunda foi o seu êxito ou inêxito, bem como a oportunidade e locais dos eventos. A terceira ainda persiste, mas está a esmaecer. Curioso. Quem ficaria radiante que a JMJ fosse um fracasso acabaria por escrever textos e não só que representam manobras de diversão urdidas de forma pouco subtil para não dizer boçal. Mas sempre enganam alguns incautos. Reparemos no título que o guru bloquista utiliza no último expresso: O problema do Papa é a sua Igreja. ( não sei se é literal e pouco importa). Perante o carisma e a simpatia que o papa Bergoglio indiscutivelmente despertou durante a sua estadia em Portugal. a personagem teve que fingir aceitar o porreirismo pessoal para poder largar o lodo da organização. Assim o ideal seria um Francisco Papa sem Igreja. Até porque ele - imagine-se - tudo faz para se afastar da herança de Joao Paulo II. E mais: Francisco trouxe a Portugal a mensagem do fim do seu patriarcado. Mas a Igreja, para além de usar o nosso dinheiro despudoradamente lançou uma fatwa sobre o não-dito Bordalo II. Uma fatwa! nem mais nem menos. Quem o matar será pago em dinheiro ou dormirá com umas virgens? Não é uma delícia tudo isto? Sua alteza Louçã dixit seguramente após um animado consistório bloquista.
Houve críticas alegando a laicidade do Estado. E alguém corrigiu dizendo que o Estado não era laico mas sim neutro. A todos estes sabichões não ocorreu consultar a CRP. Vem tudo no artigo 41º que começa por afirmar que a liberdade de consciência, de religião e de culto é inviolável. E a seguir diz-se que as Igrejas e outras comunidades religiosas são separadas do estado e são livres na sua organização. Tudo isto e só isto é regulamentado na chamada Lei da liberdade religiosa, onde a propósito daquilo a que chama princípio da cooperação se diz que o estado cooperará com as Igrejas e comunidades religiosas de acordo com a sua representatividade. Em suma: o Estado Português não é laico nem neutro. Ponto. Também não é um Estado confessional. Está separado de Igrejas e outras comunidades religiosas com as quais pode cooperar de acordo com a sua representatividade na sociedade portuguesa.
Farei aqui um ponto de ordem. Sou agnóstico. Não sou ateu. Não é a mesma coisa. Quem confunde os dois conceitos deveria procurar esclarecer-se. Mas choquemos um pouco os peritos divertidos que pretendem enlear-nos nas sua manobras de diversão. Portugal é hoje uma república porque depôs a monarquia no dia 5 de Outubro de 1910. Assim celebramos o evento. A monarquia foi instaurada pelo primeiro rei Afonso Henriques e reconhecida pelo Papa Alexandre III na bula Manifestis Pobatum em 23 de Maio de 1179. Foi aqui, creia-se ou não, que o Papa atribuíu a D. Afonso o direito de usar o título de rei bem como o direito de o transmitir aos seus sucessores com o propósito, que Afonso requereu, de defender a fé cristã e de a expandir de todas as formas incluindo lutando com a moirama. E assim fez Afonso e assim fizeram os sucessores. De Guimarães expandiu o território e a fé até aos Algarves. O quadrado, à beira mar desenhado, ficaria mais ou menos consubstanciado em 1297 com o tratado de Alcanizes.
Para o bem e para o mal, como se queira, o cristianismo ( catolicismo designadamente) teve e tem em Portugal uma história e uma aceitação social ( uma representatividade) a que nenhuma outra religião, Igreja ou comunidade religiosa pode arrogar-se como é bom de ver. O mesmo sucede com o Cristianismo na Europa. Queiramos ou não, a Europa com os milhares de vicissitudes que tem sofrido na sua longa história foi sempre influenciada por princípios cristãos e não por princípios Indús ou Mussulmanos. Foi assim. Não sabemos como será ou como virá a ser. Por mim que sou agnóstico e nem me considero nacionalista, é óbvio que a representação cristão, em Portugal não tem qualquer paralelo com a representação de qualquer outra Igreja ou comunidade religiosa. Logo, de acordo com a CRP e com a lei, a cooperação do Estado não pode ser igual para todas as religiões. Porque diabo haveria de ser? Estrafeguem-se, gritem, sapateiem, façam o que quiserem, mas não confundam o cú com as calças.
Excelente texto
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