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segunda-feira, 31 de outubro de 2011

Uma falangeta de crise

É impossível resistir. Toda a gente opina. Sábios e ignorantes, génios e imbecis. Ouvem-se tiradas verdadeiramente inacreditáveis. No sistema capitalista, as crises são cíclicas e indispensáveis para o purgar. Estão identificados os ciclos e até tratados com algum rigor. Mas agora falamos de algo mais profundo: as crises.Como foi a de 1929 que levou às profecias Keynesianas, e como é esta, mesmo tendo já sido utilizados os ensinamentos que ficaram da outra. Que consistiram apenas em injectar dinheiro por instrumentos publicos, isto é, pagos por todos, como Keynes pediu então a Roosevelt. O mesmo Keynes previu que o sistema não resistiria sem um crescimento "sustentável" da população. O pequeno crescimento demográfico, para as necessidades sistémicas, foi sendo compensado com o alargamento dos mercados. É a chamada globalização. Que não é um fenómeno novo, ao contrário do que alguns esquerdistas julgam. Pensemos, o que nem sempre é fácil. O crédito é fundamentalmente a antecipação dos rendimentos. Como parte essencial do sistema financeiro vive do crédito e este tem um preço, então mais tarde ou mais cedo haverá inevitavelmente um desfazamento entre a riqueza "material" produzida ( bens e serviços) e a sua expressão monetária. Esta será muito maior, é claro, porque o devedor tem de pagar ao credor a antecipação dos seus rendimentos. Que, como futuros, são até incertos. Os juros são o valor dessa incerteza, como é sabido. Portugal endividou-se irresponsavelmente. Há gente que o vem dizendo há décadas. Mas ninguém a quis ouvir. Os surdos raramente são mudos. E têm dentes. Abocanharam o País e fizeram de todos nós perfeitos idiotas. De que nos queixamos? De termos votado neles por que acreditámos nos cantos de sereia? Ainda acreditamos. No que não acreditamos é na necessidade de vivermos apenas com a riqueza que conseguimos criar. Porque não queremos ser pobres. Naturalmente. Ninguém quer. Mas não é possível ignorar eternamente a realidade. Somos pobres. Não só porque não criamos a riqueza necessária para deixarmos de o ser. Sobretudo porque alienámos os valores e as atitudes indispensáveis para podermos ser remediados: trabalho, mérito, dignidade, hombridade. Adoptámos: egoismo, ganância, irresponsabilidade, trafulhice, chico-espertice. Há meses, uns sábios diziam - e bem - que era preciso cortar as gorduras de um Estado monstruoso e devorador. Libertar a sociedade civil, deixando-lhe mais rendimento disponível. Quando as primeiras medidas são anunciadas, e vão ser necessárias muitas mais, todos esses sábios - ou quase todos -reclamam contra a sua injustiça. Os Senhores Juízes até falam em "mobilizar o Direito". Imagine-se! Como tema de um Congresso. É espantoso. Não haverá pudor? o mínimo de pudor?
Pois bem. Reduzir o Estado até um  limite que a sociedade portuguesa possa suportar é, de facto, indispensável e urgente, se alguém ainda tem a mínima esperança de que o País sobreviva como comunidade independente. Todas as medidas que cortem as gorduras e mais ainda as que acabem com privilégios escandalosos - simplesmente escandalosos - são urgentes e inevitáveis. E elas serão tanto mais duras e talvez injustas porque mais imponderadas, quanto mais tarde forem tomadas. O tempo já reduziu e continuará a reduzir drasticamente a margem de manobra de que dispomos. E o tempo tem mais olhos que barriga, como diz a canção. Há uma nomenklatura do regime que, concertadamente, tentará impedir o emagrecimento do Estado por todos os meios. Sejamos responsáveis e conscientes. Digamos, por uma vez: basta! basta!
E aceitemos que não é digno nem honesto vivermos, enquanto comunidade, á custa dos outros e culpando-os pela nossa preguiça e pela nossa irresponsabilidade. Não é justo. Não é correcto. Não é digno.



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