É espantosa a sabedoria deste homem. Ninguém "aguenta" tanto saber e tamanha humildade. Sim, porque ele exprime com muita humildade o muito que sabe. Quando se tratou de saber se o povo português aguentava mais austeridade- lembram-se?- logo veio a terreno o sociólogo Ulrich, Fernando, declarar, peremptoriamente, ai aguenta, aguenta. Quando, a seguir, alguém lhe falou nesta sua palermice, noutra local, também se mostrou estupefacto ou perplexo, e veio com a rábula de gosto excelente dos sem abrigo. Cada vez que o figurão abre a boca, sai sabedoria. A perplexidade, agora, veio acompenhada da tirada de que a função especial dos bancos é proteger os depósitos. Logo, são as operações passivas que constituem o grande negócio dos bancos. Os mais ignorantes poderiam ser levados a pensar que, sem operações activas, designadamente a concessão de crédito, os bancos não ganhavam dinheiro nem tinham lucros. Mas estavam e estão enganados. O Senhor Ulrich, Fernando, é um depositário: de sensatez, de certezas, de sabedoria e de insultos aos seus depositantes, entre os quais eu não me conto. Provavelmente até tem razão! Expliquemos. Já em plena crise e Socrático consulado, o Senhor e os restantes pediam emprestado ao BCE a 1% e compravam dívida pública a 7 e 8%. Mais até, como sabem. Durante este período, os bancos portugueses (e designadamente o Senhor Ulrich, Fernando,) não precisavam sequer de clientes. Tinham contribuintes. Tudo em virtude da regra imbecil, mas muito útil para os banqueiros que a criaram ( parcialmente já alterada, entretanto) de que o BCE não podia conceder crédito directamente aos Estados. Só aos bancos. Eram estes que emprestavam aos Estados. Exactamente o inverso daquilo que aconteceu nos EUA. Até que os nossos bancos atingiram um limite de "exposição" que o BCE considerou excessivo. Quando este banco ( BCE) restringiu o crédito, reuniram as sabichões -lembram-se? - e numa noite correram todos os Telejornais clamando pela necessidade de pedirmos ajuda externa. Sejamos precisos: pela repentina necessidade de o Estado Português pedir ajuda externa. Precisemos ainda mais. Os Senhores correram com o Sócrates. Houve eleições. E a ilusão democrática fez-nos crer que foi o povo. Os velhos truques contabilísticos do Ulrich, Fernando e seus companheiros, vieram " à luz" apenas com as exigências da Troika. Foi aí que descobrimos que os "sábios", afinal, não protegiam os depositantes, porque os seus rátios de solvabilidade estavam muito maus. O sábio Ulrich, Fernando, e outros, tiveram então que pedir uma vez mais ajuda aos contribuintes portugueses para se capitalizarem. Lembram-se. A este sábio, nada perplexo, então, coube a quantia de bem mais de mil milhões. Os portugueses resgatados endividaram-se para capitalizar o seu banco. Sejamos rigorosos. Os portugueses endividaram-se para proteger os depositantes do Senhor Ulrich, Fernando. Mas o sábio não mostrou, então, a mais pequena perplexidade. Coçou para dentro, como sempre fez. Mas com muita sabedoria. A razão pela qual o seu banco não tinha ratio considerado suficiente para proteger os seus depositantes e precisou de pedir dinheiro aos contribuintes, não foi dita a ninguém. É deveras "tocante" ver o Senhor Ulrich preocupado pelo facto de o Primeiro Ministro mencionar a Caixa Geral de Depósitos. Por que será? Seja qual for a opinião sobre o Primeiro Ministro, não será ele o representante do único accionista da CGD? Porque será que o Senhor Ulrich, Fernando, se incomoda tanto com aquilo que o representante do accionista diga sobre a forma de actuar do seu banco? Será que o Senhor Ulrich, Fernando, não pode falar sobre o BPI? Ou qualquer outro accionista deste glorioso banco, tão bem gerido que precisou de pedir ajuda aos contribuintes portugueses? Há uma diferença, como é bom de ver. O BPI terá milhares de accionistas. A CGD só tem um: o Estado Português. Essa falácia utilizada em lugar de contribuintes. A CGD é um banco público, Senhor Ulrich, Fernando. Trate do seu BPI e deixe aquilo que é de todos em paz. Deixe-nos em paz. Porque, na verdade, na verdade, lhe digo: V. Exª é aquilo a que os franceses chamam um emerdeur ou aquilo a que os Americanos do Norte chamam a pain in the ass. Nós, depois desse esplêndido acordo ortográfico, diremos como os brasileiros: não encha o saco. Sempre é mais soft.
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