Há um ano, os "sábios comentadores" deste ocidente ofuscado com as suas mistificações democráticas, viam a primavera em todos os outonos, estios e invernos agitados pelas multidões do próximo e médio oriente. Até a irmandade muçulmana e a sharia eram benvindas, no Egipto ( ou Egito?) que arredara- finalmente - um moribundo Mubarak e respectivos familiares. Os movimentos de rua sucediam-se em todo o lado. Até - graças a Deus, que não a Maomé -na Líbia de Kadafi, o amigo de Sócrates. Aqui, pior não sucederá, porventura. Mas nunca se sabe. No Egipto, os militares intervieram uma vez mais. Estiveram quietos tempo demais. Para o seu gosto, evidentemente. Parece que os seus privilégios são tais, no meio de uma sociedade desgraçadamente desigual, que estão sempre à vontade para agir em nome do povo. Como noutros quadrantes. Em nome do povo, tudo é possível. A questão central passa, pois, a ser esta: o povo! que diabo de "bicho" legitimador é este? Para os sábios que nos conformam diariamente, pelo acesso que têm aos meios de divulgação propagandística, a legitimação vem do voto. O voto. O voto. Ora agora votas tu. Ora agora voto eu. Votas tu mais eu. Votamos todos. E legitimamos deste forma todas as irmandades espúrias do planeta. Como legitimamos deste modo todas as incompetências, irresponsabilidades, corrupções e demais vícios que possam ser assacados aos "eleitos". Ser eleito é isso mesmo. Ou não será? Temos exemplos na nossa praça - antigos e recentes - de quem procura ser eleito apenas para justificar patifarias várias e até de quem, por esse meio democrático, procura impunidades. E bem sucedidos, em grande parte dos casos. Daí que o povo - o tal - já tenha aprendido a dizer: parvos são os honestos. É enorme a sabedoria popular. Sempre foi muito grande a sabedoria popular. Por isso elegeu a irmandade muçulmana no Egipto, há um ano. Por isso bateu palmas quando os militares depuseram o chefe da irmandade muçulmana, ontem. Quando lhes encerraram a televisão e prenderam os jornalistas. Quem diria? A democracia, enquanto conceito, continua um aferidor razoável. Mas é preciso entender que a democracia não é, nem se resume ao voto. Para que a democracia faça sentido, é preciso que tenha condições sociais que permitam uma escolha consciente e ponderada. Será possível? Nem sempre, é claro. Mas é possível ir criando condições para tanto. É indiscutível que as massas populares são cada vez mais susceptíveis à demagogia. O caso português é paradigmático, e justifica o insucesso das últimas décadas: a corrupção, a incompetência, a irresponsabilidade são resultado do voto popular em demagogos. Que tudo prometem para ganhar. Mas que uma vez no poder, usam-no no seu interesse e no interesse dos seus circulos, sempre com a perspectiva de assegurar a "retirada". Por isso beneficiam quem lhes pode garantir o futuro depois da " comissão de serviço". Se bem nos parece, só a educação permitirá debelar e melhorar gradualmente esta tendência popular irresistível para os reality shows e para o voyerismo. Num primeiro momento, não haverá muitas outras alternativas, senão a de uma 2ª Câmara. Um Senado, ou algo semelhante, independentemente do nome, mas cujos membros a eleger não dependessem integralmente do voto igualitário resultante apenas de uma campanha eleitoral e da segregação partidária. Esta segunda Câmara funcionaria como um "travão" para as precipitações da 1ª, ou Câmara dos representantes, como queiramos chamar-lhe. E indirectamente poderia assegurar alguma censura às irresponsabilidades dos executivos. A grande asneira que tem sido repetidamente cometida na organização do sistema educativo em Portugal, mas não só, é perspectivar esse sistema à imagem do sistema político: um poder executivo, uma assembleia, etc. A função do professor assenta na mais profunda e autêntica dádiva democrática. Dando o seu saber, o professor - todos os professores - dão tudo o que têm de melhor. Logo, dão o poder de que dispõem. Por isso é estulto um sistema de ensino que esqueça esta realidade. Também por isso, ao que nos parece, o futuro da democracia - para quem a queira preservar - só dependerá do conhecimento e da educação dos súbditos. Que termo desgraçado. Dos contribuintes. Sim, porque é altura de os sistemas continentais repensarem o papel dos Estados. Este conceito nada esclarece. Mas ajuda a confundir. Sendo verdade que o conflito social mais importante do sec.xxi é a tensão entre o indivíduo e a organização. maxime, a dos Estado. Haverá alguém que não tenha já sido atropelado por qualquer espécie de burocracia Kafkiana?
Sem comentários:
Enviar um comentário