Parece que no comando distrital de Évora da GNR há objectivos a cumprir, no que a multas diz respeito. Provavelmente não será apenas em Évora. Mas aqui, de acordo com as notícias, é reconhecido publicamente o mérito dos maiores autuantes e o demérito dos menores autuantes. Neste caso e porque não há normas imperfeitas eficazes, parece que a punição consistirá, entre outras medidas, em patrulhamentos a pé, de forma a obrigar a percorrer distâncias consideráveis. Francamente! Caminhar faz bem. Gente, ou melhor agente saudável ou que queira sê-lo, deveria exercitar com agrado uma atitude abstencionista. Et pour cause. Com o risco de desagradar aos comandantes, claro está. Não posso considerar-me muito viajado. Alguma coisa conheço, na Europa, designadamente. E não conheço País nenhum onde os Senhores agentes exercitem tanto esta maravilhosa faculdade. Talvez seja o exercício de autoridade que mais gozo lhes dá. No faz de conta da guerra colonial, as operações militares eram planeadas "mensalmente" nos comandos. Ou era de lá que vinha a última palavra. Logo, muitos dias de mato era um indício seguro de firmeza e autoridade. Pela nossa parte, saíamos do "quartel" uns quatro ou cinco quilómetros e acampávamos uns dias para consumirmos a ração de combate. E assim se acomodavam todos os interesses. Já repararam como há múltiplas semelhanças? Há tanta coisa para patrulhar! Parece, todavia, que os automobilistas são o alvo mais fácil e com quem melhor se exercita a autoridade e o seu sistemático abuso. Pobre País, onde as polícias se queixam diariamente de falta de meios humanos e materiais. Uma pequena história, ao jeito anglo-saxónico. Como os senhores agentes "adoram" conversa e desculpas -de quê?- que rebaixem o condutor e lhes exacerbe o amor próprio e a vaidade, assumo a atitude de nada dizer. Há uns anos, numa certa manhã radiosa e fresca de Outono, ía eu a caminho do tribunal do Montijo, fui mandado parar à saída do túnel de Montemor, na CREL, por um agente cujo automóvel circulava à minha frente, no dito túnel. Só acendera as luzes já dentro do túnel uns cinquenta metros. As perguntas do costume e mais algumas, entre elas:- Para onde vai? Não resisti: -O que é que o Senhor tem a ver com isso? Multa certa, obviamente. Como o companheiro seria mais novo, a ele coube preencher a papelada dentro do automóvel pago por todos nós, enquanto eu aguardava no automóvel pago por mim e o agente principal aguardou especado à saída do túnel por onde passaram centenas de veículos, 80% dos quais sem luzes acesas. Atendendo ao reconhecido domínio da escrita deste e doutros senhores agentes, a espera foi longa. O facto, finalmente. No auto constava que eu circulava sem luzes no túnel. Quis corrigir:- escreva, por favor, que só acendi as luzes já dentro do túnel. - É a mesma coisa! - Não lhe compete julgar, mas sim relatar os factos em concreto. Recusa esperada. Com pouco mérito, mas esperada. Pedi-lhe para chamar o companheiro o qual, aliás, teria sempre que comprovar a minha recusa em assinar. Quando chegou perguntei-lhe quantos automóveis tinham atravessado o túnel sem luzes. -Muitos? -Mas não mandou parar nenhum? - É muito perigoso, neste lugar. - Mas foi aqui que me mandou parar. - É diferente.
E pronto. Assim fui multado com todo o mérito. Bolas. Qual será a dúvida. Eles precisam de constar dos quadros de honra ou melhor de mérito. Alguém tem de se destacar numa sociedade cujas instituições mergulharam na lama. Irreversivelmente?
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