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sexta-feira, 7 de novembro de 2014

Abaixo de cão

Venho a este espaço cada vez menos. E cada vez mais constrangido. A sociedade portuguesa bateu no fundo. Os dirigentes nacionais que deveriam ser exemplos de decência e de dignidade, assumem comportamentos que envergonham todos quantos ainda têm alguma noção desses conceitos elementares à própria convivência de seres humanos. O espectáculo que o Senhor Ministro da Economia deu ontem na Assembleia da República é simplesmente abjecto. Mesmo assim, o Senhor estava tão seguro de si, tão à-vontade que comprovou esta verdade insofismável: os imbecis estão cheios de certezas e os inteligentes cheios de dúvidas. Tão certa era a sua "certeza" que perante o espectáculo infame que acabara de proporcionar, ainda estranhou a excitação e o nervosismo de uma bancada da oposição. Depois do que vi, uma coisa apenas me ocorre, como julgo que sucederá com muita outra gente: o Senhor ministro não poderia estar no seu perfeito juízo. A verdade é que todos os dias nos são proporcionados "espectáculos" de gente que seguramente não pode estar no seu perfeito juízo. A sociedade portuguesa, cansada de aturar tudo isto, não pode estar no seu perfeito juízo. Alguém tem de pôr cobro a este descalabro. Agora são aos montões as "desculpas" e "incriminações"de gente importantíssima a respeito do BES e do GES e correspondentes empresas. Ontem, um Senhor dizia que o Senhor Salgado tinha enganado o país inteiro. As tropelias salgadas ou insonsas foram tantas e durante tanto tempo que só foi enganado quem quis ou quem teve interesse em mamar da teta onde os Espíritos mais ou menos Santos mamaram durante décadas. E não são os únicos. Os recursos nacionais foram abocanhados por gangsters. Da política aos negócios, aos diferentes centros e até periferias com  algum poder. As duas últimas notícias espalhadas até à náusea incomodaram seriamente as virgens nacionais. A mediocridade dos jornais e jornalistas deliciou-se com a divulgação de um eventual lapso da Senhora Merkel que, segundo os Jornais, teria dito que Portugal e Espanha teriam licenciados a mais. Não ouvi a Senhora Merkel e ainda que tentasse descobrir o que a criatura quis realmente dizer, o meu alemão do velho 3º ciclo liceal não me permitiria deslindar as eventuais subtilezas da língua alemã. Desconfiava e desconfio, naturalmente, do rigor dessa notícia. De resto, ontem já um jornal retransmitia a novidade de forma algo diferente. Parece que a "tirada" se aproximaria disto: a Espanha e Portugal têm muitos licenciados e isso de pouco lhes vale, porque permitiram a desvalorização do ensino vocacional. Repito. Não sei se foi isto que a Chanceler disse ou quis dizer. Mas acredito mais nesta versão do que na primeira. E se assim for, só podemos dizer que a Senhora tem razão. Todos sabemos que é verdade. Não temos licenciados a mais, como é evidente. Mas temos profissionais qualificados e competentes a menos, como electricistas, canalizadores, carpinteiros, soldadores etc.etc.Alguém duvida disto? É só ver. Os melhores profissionais que se encontram no mercado de trabalho são brasileiros, da Europa de leste e por aí fora. Imigrantes. Portugueses são uma raridade. E sem estes profissionais, jamais teremos índices de produtividade que permitam tirar o país da bancarrota em que se encontra. Porque ainda se encontra em bancarrota, por muita demagogia que "os eleitos" usem para provar o contrário. Os credores e não só já o disseram com alguma subtileza. Há meses tinham toda a razão. Agora, não sabem o que dizem, porque os génios nacionais estão muito mais ao par dos acontecimentos. Estamos na bancarrota. Dela não sairemos enquanto a produção se mantiver estagnada ou quase, tivermos de pagar os juros incomportáveis dos empréstimos que pedimos, e o Estado se assumir apenas como um chupista colector de impostos e produtor de burocracia e de sistemáticos abusos de poder, manifestos ou acobertados.
Uma última questão, particularmente melindrosa, entre as muitas que pululam e poluem o magro e mal oxigenado espaço da nossa vida social. O Governo de Timor Leste, através de uma "ordem"- resolução?- parlamentar, terá ordenado a expulsão de magistrados portugueses que aí permaneciam ao abrigo de um acordo de  cooperação. São equívocos os factos, os meios, as razões, os motivos e tudo o mais. Mas a corporação ou corporações, melhor informadas do que eu, naturalmente, cerraram fileiras. E a Ministra sentiu-se e, solidária, falou até do princípio sagrado da separação de poderes. Das várias coisas que li, há algumas que cheiram a orquestração e outras a parvoíces puras e simples. Razão essencial para o comportamento do governo timorense: os juízes portugueses estariam a investigar ilícitos dos ministros timorenses. (I)- Só os portugueses foram expulsos? Parece que não. Terão sido umas dezenas de "cooperantes". Este facto é dito apenas em surdina. (II)- Todos os magistrados investigavam ilícitos? Que estranho! Em Portugal, os juízes não investigam. Só os juízes de instrução farão alguma investigação. Infelizmente, mesmo os magistrados do Ministério Público ( detentor da direcção dos inquéritos criminais) investigam muito pouco. E nem gostam. Delegam os actos de investigação e até as meras audições nas polícias. Porque diabo haveria de investigar um juiz desembargador? Parece que um, pelo menos, haveria. A ex-ministra da Justiça estava presa por participação económica em negócio. Que interessante! Em portugal, não há ministros presos e o crime também existe no nosso Código. Afinal, razão tinha a Cândida Almeida, Senhora Procuradora, quero dizer. Em Portugal não há corrupção, como todos sabem. Ou então, os juízes portugueses são como os restantes emigrantes: excelentes quando trabalham no estrangeiro. Negligentes e medíocres quando trabalham em Portugal. Finalmente, não posso deixar de citar o único jornalista que, em forma de diálogo, pôs o dedo na ferida. Fernandes Ferreira, de seu nome. Os cooperantes não podem integrar um órgão de soberania de um outro país, como são os Tribunais. Onde está a separação de poderes, Senhora Ministra? Então os estrangeiros, cooperantes ou pouco, podem ocupar lugares em que julgam os "cooperados" sem que possa haver qualquer "censura" por parte dos restantes poderes, porque há e deve haver separação de poderes? Mas isso seria o descalabro. Logo, se houve ou há juízes portugueses ocupando lugares de um órgão de soberania em Timor Leste, isto diz bem da bacoquice de quem celebrou tal acordo, desde logo, e também da bacoquice dos magistrados que aceitaram participar nessa farsa absurda e hilariante.
Mas enfim, tudo isto não passa de um exercício de estilo. Se bem "ajuizarmos" Portugal está muito bem, cheio de saúde e recomenda-se. Quando joga de novo a selecção nacional? E o Benfica? Ai Jesus, não nos deixes ficar mal. Ora essa!

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