Mário Soares morreu no passado dia 7 de Janeiro de 2017 com 92 anos. O enterro foi terça-feira, dia 10, tendo o corpo ficado no mausoléu familiar no Cemitério dos Prazeres. A morte de Soares surpreendeu o 1º Ministro em viagem oficial à Índia. Viagem que não interrompeu porque o dever está acima de tudo. É bonito ouvir coisas destas. O Governo decidiu que Soares teria um funeral de Estado e decretou 3 dias de luto. O que parece correcto. O cortejo para os Jerónimos e daqui para o cemitério com as devidas "pausas" foi divulgado ad nauseam. As várias cerimónias foram impecavelmente organizadas e calendarizadas. A fotografia do ex-presidente da República foi divulgada por Lisboa inteira. As que vi tinham o símbolo ( assinatura?) da Câmara Municipal de Lisboa. Durante os quatro dias, de pouco mais se falou para além da vida e da morte de Mário Soares. Houve pessoas, como sempre sucede, que aproveitaram para destilar ódio e despeito. Foram tratadas, até literalmente por energúmenos. Partilho o aforismo latino: de mortuis nihil nisi bonum. Por isso, também me parece mau gosto tecer comentários despropositados sobre alguém aquando da sua morte. A História não tem pressa. Mas a maioria dos inumeráveis comentários, artigos, reportagens opiniões, pequenas histórias, testemunhos, depoimentos,etc. foram encómios, panegíricos, louvores sem fim ao pai da liberdade. Reconheço que no meio do turbilhão, algumas opiniões foram escritas em português razoável. Mas outras, nem a gramática nem a semântica lhes valiam. Eram mediocridades salpicadas de notório oportunismo. Mas da maioria esmagadora, ressaltava, de facto, a intolerância sob a capa desta verdade mistificadora: se não fosse Soares não poderíamos celebrar a liberdade e escrever encómios, porque o ambiente de censura para com suspeitos de tecer alguma crítica estava presente e era pesado como chumbo. Por isso destaco aqui dois artigos: um do muito censurado Henrique Raposo, no Expresso, de que julgo ser suficiente recordar apenas isto: o título: Nem Hagiografia nem Travessura. E mais esta verdade incontestável. As ditaduras têm um pai. Os regimes livres têm muitos pais. O outro artigo que quero destacar é de Alberto Gonçalves na Revista Sábado. Apesar de toda a revista ser uma edição especial dedicada a Soares ( com muitas páginas de interesse duvidoso), no seu Juízo Final, Alberto Gonçalves com o respeito apropriado referiu-se aos inumeráveis escritos e oportunismos assim ( cito de memória): Pelos vistos, uma considerável percentagem dos meus compatriotas apenas respira, pensa, corre, dança e repete banalidades em público graças ao Dr. Soares. Curiosamente muitos dos que agradecem a liberdade, apreciam hoje a influência que notórios inimigos da liberdade exercem sobre o País.
Não seria nisto que Alberto Gonçalves pensava. Mas ocorre-me o episódio, os múltiplos episódios do chamado ex-secretariado do PS quando forçaram Soares a suspender as funções de Secretário Geral. O objectivo era esfrangalhar o PS apoiando a candidatura de Ramalho Eanes. E haverá quem não esqueça que o General quando impulsionou da Presidência a constituição do PRD queria indiscutivelmente despedaçar o PS e talvez em menor escala, o PSD. Estou à vontade neste campo. Foi a única ocasião em que apoiei publicamente a posição de Soares. Com um artigo no semanário O Jornal. Pontificavam então no Secretariado do PS figuras como o hoje Secretário Geral da ONU, António Guterres, o ex-Presidente da República Jorge Sampaio, Vitor Constâncio e tantos, tantos outros. Estagiário que foi do escritório de Sampaio, António Costa estaria então com os nomes sonantes de que nomeei apenas três. Seguramente. Mas enfim. Como disse anteriormente, a História dirá o que ainda não foi dito e, particularmente, desdirá o muito que foi dito sem critério e sem justificação séria.
Para já fiquemo-nos por isto. Mário Soares terá um lugar central na História de Portugal da segunda metade do Sec.XX ( afasto os 16 anos deste século, porque lhe são grandemente desfavoráveis), para o bem e para o mal. Assumiu atitudes importantes para a vida de todos nós, mas também teve atitudes desastrosas. Direi a terminar que a liberdade não é um conceito abstracto que se transporte como um facho olímpico. A liberdade está condicionada e é determinada pelas condições da liberdade. Condições políticas mas também económicas e sociais. Se é indiscutível que a liberdade política não tem paralelo com aquela que existia no final do Estado Novo, tenho muitas dúvidas que o peso da organização, maxime a do Estado, facultem ao indivíduo uma liberdade sócio-económica aceitável, mesmo comparando com os últimos anos do Estado Novo. É também verdade que o bem estar económico-social foi democratizado, abrange hoje um maior número de cidadãos. Mas tendemos sempre a esquecer que se passaram 42 anos sobre o golpe de Estado de que viria a sair um arremedo de revolução. Qualquer regime teria evoluído e...naturalmente para a democracia. A liberdade política chegaria com Mário Soares ou sem Mário Soares. O que não retira importância à luta pela liberdade que este travou nos momentos certos. A tirania fiscal que hoje vivemos não encontra paralelo em qualquer outro momento da nossa história.Não me lembro, pelo menos. As grandes organizações espremem os direitos individuais até ao tutano, sendo verdade que os responsáveis, ou melhor aqueles a quem foram cometidas responsabilidades para evitar estes atropelo, limitam-se a assobiar para o lado, quando não estão "comprometidos" ou corrompidos pelas organizações que era suposto regularem.
Hoje, em Portugal, são frágeis muito frágeis as condições da Liberdade.
nota: reproduz-se um quadro de Vieira da Silva intitulado, ao que penso, o prisioneiro na árvore.
Não seria nisto que Alberto Gonçalves pensava. Mas ocorre-me o episódio, os múltiplos episódios do chamado ex-secretariado do PS quando forçaram Soares a suspender as funções de Secretário Geral. O objectivo era esfrangalhar o PS apoiando a candidatura de Ramalho Eanes. E haverá quem não esqueça que o General quando impulsionou da Presidência a constituição do PRD queria indiscutivelmente despedaçar o PS e talvez em menor escala, o PSD. Estou à vontade neste campo. Foi a única ocasião em que apoiei publicamente a posição de Soares. Com um artigo no semanário O Jornal. Pontificavam então no Secretariado do PS figuras como o hoje Secretário Geral da ONU, António Guterres, o ex-Presidente da República Jorge Sampaio, Vitor Constâncio e tantos, tantos outros. Estagiário que foi do escritório de Sampaio, António Costa estaria então com os nomes sonantes de que nomeei apenas três. Seguramente. Mas enfim. Como disse anteriormente, a História dirá o que ainda não foi dito e, particularmente, desdirá o muito que foi dito sem critério e sem justificação séria.
Para já fiquemo-nos por isto. Mário Soares terá um lugar central na História de Portugal da segunda metade do Sec.XX ( afasto os 16 anos deste século, porque lhe são grandemente desfavoráveis), para o bem e para o mal. Assumiu atitudes importantes para a vida de todos nós, mas também teve atitudes desastrosas. Direi a terminar que a liberdade não é um conceito abstracto que se transporte como um facho olímpico. A liberdade está condicionada e é determinada pelas condições da liberdade. Condições políticas mas também económicas e sociais. Se é indiscutível que a liberdade política não tem paralelo com aquela que existia no final do Estado Novo, tenho muitas dúvidas que o peso da organização, maxime a do Estado, facultem ao indivíduo uma liberdade sócio-económica aceitável, mesmo comparando com os últimos anos do Estado Novo. É também verdade que o bem estar económico-social foi democratizado, abrange hoje um maior número de cidadãos. Mas tendemos sempre a esquecer que se passaram 42 anos sobre o golpe de Estado de que viria a sair um arremedo de revolução. Qualquer regime teria evoluído e...naturalmente para a democracia. A liberdade política chegaria com Mário Soares ou sem Mário Soares. O que não retira importância à luta pela liberdade que este travou nos momentos certos. A tirania fiscal que hoje vivemos não encontra paralelo em qualquer outro momento da nossa história.Não me lembro, pelo menos. As grandes organizações espremem os direitos individuais até ao tutano, sendo verdade que os responsáveis, ou melhor aqueles a quem foram cometidas responsabilidades para evitar estes atropelo, limitam-se a assobiar para o lado, quando não estão "comprometidos" ou corrompidos pelas organizações que era suposto regularem.
Hoje, em Portugal, são frágeis muito frágeis as condições da Liberdade.
nota: reproduz-se um quadro de Vieira da Silva intitulado, ao que penso, o prisioneiro na árvore.
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