A trágica "época dos fogos" que anualmente fustiga este país triste, antecipou-se este ano aos prazos determinados pelos insubstituíveis técnicos e peritos. Antecipou-se, trazendo uma catástrofe de dimensões que ultrapassam tudo o que poderia imaginar-se. As dezenas de vítimas de Pedrógão Grande e de Góis, como todas as vítimas, merecem silêncio, contenção da raiva inevitável, solidariedade e tudo o que de bom a alma humana ainda pode dar ao próximo com empatia e sofrimento. Os meios de comunicação
- os mesmos que nos enojam com exageros determinados por medíocres e insensíveis - dizem-nos também que esta catástrofe tem sido acompanhada um pouco pelo mundo fora. Perante a dimensão inacreditável da tragédia e as opiniões mais diversas, surgem sempre alguns cucos que entendem que só o pranto e o silêncio acompanhado dos habituais reconhecimentos ao esforço de todos os responsáveis pode respeitar as vítimas. É inacreditável. Há décadas que os fogos vão devorando o território e a sociedade portugueses. Há décadas que os cucos prometem medidas de prevenção, reordenamento da floresta, meios de combate eficazes, apoios de todos os tipos e feitios, enfim, a panóplia conhecida de quem, verdadeiramente utiliza com um oportunismo asqueroso, nos incêndios como em tudo o mais, a simplicidade e a "mansidão" de um povo que foi abocanhado por vampiros e incompetentes a quem nem podemos criticar nestes momentos de infelicidade natural. Como noutros tempos, é a infelicidade que fatalmente nos bate à porta todos os anos. E é verdade. A fatalidade. A fatalidade. Trovoadas secas na Beira, buracos que devoram carros nas principais avenidas da capital. Fatalidades. Fatalidades. Cada vez serão mais frequentes. Cada vez serão de maior dimensão. A GNR não sabia nem poderia adivinhar o perigo quando indicou ou permitiu o trânsito naquela que é hoje a estrada da morte. Mas não haverá país do mundo onde a fiscalização dos condutores seja mais frequente.Passeiam-se por todo o lado, mas sempre sem meios humanos nem materiais. O vento e o calor nunca vistos eram totalmente imprevisíveis, pois claro. Imprevisíveis eram - são sempre- as falhas das comunicações. Falhas que causaram a morte, a devastação, o medo e a tristeza. Como li num texto extraordinário de Maria João Marques, parece que o único culpado de tudo isto é o infeliz que há anos terá plantado a árvore que aparou o raio. Mas, afinal parece que o Presidente da Liga dos Bombeiros, Mata Soares de seu nome, já sabe que o incêndio ocorrera e tinha proporções muito grandes quando se verificou a trovoada seca. Mas é extraordinário.. No mínimo é extraordinário. No 2º dia do incêndio que a esta hora ainda não pode dar-se por extinto, já a PJ sabia que fora causado por causas naturais. Extraordinário. Que competência! Que rapidez! Que precisão. O País está corporativizado. Vejam bem. Agora, as corporações mais ilegítimas pavoneiam-se garbosamente pelos recônditos labirintos legiferantes e administrativos. Nenhum incêndio, nenhuma tragédia pôde evitar a greve dos professores. E nenhuma tragédia evitará esse verdadeiro absurdo que é a greve dos Juízes. Poderíamos continuar indefinidamente. O País foi abocanhado. E os cucos tudo fazem e utilizam toda a retórica para que os operários a quem devem o ninho esqueçam a irresponsabilidade, a negligência, a incompetência, a pulhice. Pobre País. Pobre povo. Como são largas as costas desta pseudo-democracia.
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