A notícia é recente mas já ecoa pelas chamadas redes sociais. É digna dessa honra. O Senhor Ministro dos Negócios Estrangeiros Português, de seu nome Augusto Santos Silva, mostrou-se agastado, irritado e pronto para a luta a propósito de dez países europeus impedirem ou condicionarem a entrada de portugueses, uma vez abertas as suas fronteiras. Também li a notícia. No dia seguinte ao foguetório pelo facto de os jogos finais da champions se realizarem em Lisboa e, talvez, Porto e Guimarães. Também isto teve honras de discursos laudatórios em Belém. O costume, com a inevitável ênfase presidencial a que seguramente se seguirá, dentro de pouco tempo, uma condecoração. Já há uns tempos o Senhor ministro levantara a crista ao espanhol Sanchez quando este anunciou a intenção de abrir a fronteira com Portugal no dia 21 de Junho. Parece que a questão agora se inverteu. Quem manda nas fronteiras portuguesas é o governo de Portugal, dizia então. Sem qualquer dúvida Senhor Ministro. Enfim, o senhor ministro admitiu mesmo a hipótese de retaliar contra esses ingratos que não reconhecem o milagre português no combate á pandemia. Também li a notícia. Paradigma daquilo que se passa neste passeio alegre à beira mar plantado. Face à catástrofe económica resultante de medidas com pouca ponderação e racionalidade, algumas delas, o governo abre o país à espera que o turismo faça desabrochar as rosas do esperado milagre. Outro milagre porque somos terreno fértil. Simultaneamente, o primeiro ministro Costa alude ao prazer de um Algarve sem enchentes - que experimentou - para apelar aos turistas nacionais, presumo. E diz também que os jogos europeus representam um merecido prémio para os profissionais da saúde (!) Assim. Exemplo de contenção e rigor. Como se espera de um primeiro ministro. Sempre que algum facto ou fantasia reconhece ou sugere uma participação meritória de um português, o foguetório e gabarolice enchem o ego nacional. Os feitos colectivos são vitórias festejadas e guardadas na memória dos tempos. Estes governantes - ao que parece - precisam de constantes compensações de uma pequenez que entristece. Quando a realidade não nos beneficia, valemo-mo-nos até de hipotéticas retaliações. E testamos. Somos aqueles que mais testamos alegam agora. Por isso, os números menos favoráveis de novos contágios. Nisso rivalizamos com o Senhor Trump. Em retórica barata, quero dizer. Se não testarmos, acabamos com o vírus. Qual é a dúvida?
O senhor não dirigiu a retaliação aos países que duvidaram ou duvidam do milagre português. Até porque os milagres não se analisam por um único critério, como agora se afirma. A hipotética retaliação é dirigida ao ego dos patriotas. Ou será também aos filhos do embaixador do Iraque?
Este Ministro gosta de malhar na direita. Consabidamente. Esperemos que não se afeiçoe a malhar na Dinamarca, na Áustria e nos restantes inimigos figadais da bravura lusitana.
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