De vez em quando alguém diz ou escreve coisas inteligentes. Mesmo em Portugal, imagine-se! Por isso pude ler há dias que um empresário, de seu nome Alexandre Relvas terá afirmado numa conferência que a economia portuguesa precisa de um choque de gestão. Para tanto, seria necessário que o salário mínimo se situasse o mais depressa possível entre os € 1000,00 e 1200,00. Aplaudo, sem reservas. O mesmo empresário teria também dito ser necessário compensar com mexidas na legislação laboral. Parece não ter concretizado tais mexidas. Mas eu avanço. É preciso mobilidade dos recursos humanos. Em todos os sentidos, designadamente como consequência de uma liberalização dos despedimentos. É sabido que a produtividade portuguesa é vergonhosa. Sem um aumento sério da produtividade, Portugal não passará da cepa torta. O grande escândalo nacional ( e não só) é a diferença intolerável entre o estatuto e vencimentos do sector privado e do sector público. Não só o vencimento médio do sector público é praticamente o dobro do vencimento do sector privado, como há privilégios que o sector público tem que o sector privado nunca poderá ter. Os meses do confinamento na pandemia foram disto exemplo indesmentível. A esquerda radical, que tem imposto uma agenda acéfalo ao PS e, por seu intermédio a todos nós, enche sistematicamente a boca com a situação dos chamados precários. É verdade que a precariedade nestas condições tem efeitos miseráveis. Mas a vida é e será cada vez mais precária. E não podemos parar a vida. Os empregos serão cada vez mais precários. É também escandaloso que se tenha facilitado o divórcio até ao ponto de o casamento ser um vínculo quase precário, e continuem a defender-se, no âmbito das relações laborais, vínculos cada vez mais difíceis de dissolver. Por ser difícil despedir é que os empresários se socorrem dos contratos a termo. O mesmo sucede, aliás, na função pública. Ora o choque de gestão deve passar por liberalizar os despedimentos no sector privado e também, com diferentes feições, nos sectores públicos: Estado, Regiões Autónomas, Autarquias locais e empresas criadas e geridas por esses entes púbicos. O Estado, as regiões autónomas e as autarquias fazem uma alocação de recursos humanos completamente estúpida. Todos sabemos isto. Todos temos conhecimento de sectores e empresas públicas ( lato sensu) que são ninhos pejados de pessoas funcionalmente dispensáveis. A inversa também é verdadeira. Há sectores onde falta pessoal competente e diligente. É verdadeiramente insuportável que esses entes públicos comprem votos, retirando à sociedade civil profissões que podem criar riqueza. O Estado e as Autarquias, por esse país fora, vivem dos impostos dos Portugueses e ainda "roubam" directamente à sociedade civil, os profissionais que poderiam criar riqueza.
Só há uma forma de acabar ou diminuir drasticamente os contratos a termo. É liberalizar os despedimentos. Com a certeza de algo que é evidente há muito, mas que se tornou flagrante nos últimos anos. Ninguém de bom senso despede um trabalhador zeloso e competente. Há falta de mão de obra qualificada. Nos últimos tempos há falta de mão de obra, qualificada ou não. Desde que o salário médio compense, como sucede por essa Europa fora, e permita a mobilidade dos trabalhadores, não há que ter medo dos despedimentos. Ninguém precisará de os recear a não ser, talvez, os incompetentes e preguiçosos que assim querem continuar. Com estes, a produtividade não melhora estejam eles em que sector estiverem. E é sabida esta verdade economicamente incontestável. A prazo, a massa salarial é sempre função da produtividade. Assim, sem o tal choque de gestão, continuaremos a percorrer a rampa descendente, ainda que de mão estendida para a mesma Europa e muito escandalizados com os ministros holandeses "repugnantes", segundo Costa.
Integraremos sempre o carro vassoura dessa Europa a cujo nível de vida tanto aspiramos. Mas cheios de orgulho quando a equipa de futsal ganha o campeonato do mundo. Cheios de orgulho dos pequenos grandes feitos que atletas, cientistas ou gestores portugueses consigam. No estrangeiro, por via de regra.
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