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domingo, 15 de abril de 2012

Festanças

A semana parece ter sido fértil em anedotas. Como de costume. As duas ex-ministras de educação dos governos Sócrates foram ao Parlamento "justificar" a festa que foi a Parque Escolar. Por incrível que pareça, o termo terá mesmo sido utilizado pela Dª Mª de Lurdes Rodrigues. Infeliz, dir-se-á. Talvez. Não foi a primeira vez. Mas, mais festa menos festa, as duas disseram o mesmo e continuam a entender que ninguém esbanjou dinheiro, ninguém gastou a mais, tudo foi feito com cabeça, tronco e membros. Porque não candeeiros de Siza Vieira? Porque não mármores em pombais reconstruídos? Porque não a miséria a que chegámos? Porque não a dívida pública? Porue não burrifarmo-nos para ela? Porque não todas ou todos os parques que estiveram em moda? Lisboa, Braga, Porto, Freixo de Espada à Cinta, seja onde for, os Portugueses tiveram o direito de esbanjar ontem e continuam com o direito de empobrecer hoje. Porque continuaremos a empobrecer, seguramente. Por quanto tempo? Eis a grande incógnita. Os doutos economistas vão dando uns palpites, mas não sabem. Acreditem. Não sabem. Nem os nacionais, nem os da Troika. Não sabem. Ninguém sabe. As variáveis são tantas em toda a Europa, senão mesmo em todo o mundo que ninguém pode prever com um mínimo de certeza o que sucederá daqui a dois anos. Para já, a riqueza que anualmente produzimos diminuirá este ano e no próximo. Logo, haverá menos rendimento. E muito menos rendimento disponível. Para a economia real, isso só pode significar emagrecimento ou, se quisermos chamar os bois pelos nomes, empobrecimento. Que terá de se reflectir, mais cedo ou mais tarde, na capacidade do próprio Estado arrecadar receitas fiscais. Já está a suceder, pelo que nos dizem. Mas vai suceder de forma ainda mais evidente. O que é espantoso é que tanta gente entenda que poderíamos e deveríamos continuar a gastar à tripa forra. O que temos, o que não temos e o que nunca teremos, como se verifica. O que é espantoso é que a reacção não aceite que alguma coisa altere ou mude. Isto é verdadeiramente reacção, por muito que lhes custe a aceitar. Poderá retirar-se daqui que estou a defender as medidas de austeridade deste governo? De maneira nenhuma. Já aqui o disse. A austeridade pode diminuir a velocidade com que nos endividamos. Mas não permite pagar a dívida. Jamis permitirá. Para pagarmos o que devemos, teremos de aumentar o rendimento nacional, como é absolutamente óbvio. Destruir a classe média, como tem vindo a suceder e agora mais do que nunca é o caminho mais directo para o abismo. Permitir que os bancos peçam emprestado ao BCE a 1% e emprestem ao Estado a 6 ou 7% é criar condições para que o sector financeiro não precise de clientes. Para quê? Se tem contribuintes!? A moralização da vida pública nacional é essencial. Acabar com mordomias obscenas, vencimentos milionários, sinecuras completamente inexplicáveis é urgente. Não serão essas medidas, por si mesmas, que farão com que saiamos da crise. Mas poderão ajudar. Pelo exemplo, quanto mais não seja. A população não pode sentir-se incapaz perante tanta mentira e tanta ladroagem. Teremos de criar condições sociais que evitem a triste resignação em que vivemos. É a Justiça. A Justiça é um valor indispensável à moralização social. E a Justiça tarda, e tarda... e só esperemos que chegue algum dia. E que não seja tarde demais como diz o fado. Porque tudo isto existe e tudo isto é fado.
* A imagem nada tem a ver com as Festanças da Parque Escolar, de todas(os) as/os parques da paróquia, das chamadas parcerias público-privadas ou ppp, etc. Aproveitei a imagem de uma lindíssima miniatura intitulada Cantorias na Roça, que retirei do Google, mas que terá sido publicada em http://www.overmundo.com/. Ao que parece, trata-se de uam lindíssima miniatura de um artista popular brasileiro, de seu nome Adriano Araújo, que depois de alguns anos como porteiro em S. Paulo regressou à sua pequena cidade de Pedro II, e se dedica agora a fazer miniaturas da vida que conheceu em criança, mas que o tempo já destruiu. Há mesmo um mini-museu com estas lindíssimas miniaturas. Assim, a festança da imagem é positiva, ao contrário daquelas a que o texto alude, e fica aqui como homenagem a Adriano Araújo e também a Natacha Maranhão, autora da reportagem que pude ler.

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