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sábado, 6 de outubro de 2012

Coudelaria de Alter: à espera de um milagre

Visitei ontem a Coudelaria de Alter. Alarmado pelas últimas notícias, quis verificar pessoalmente "o exagero dos jornalistas". Emganei-me. O Jornalista, cujo nome não recordo, pecou por defeito. A situação deste símbolo magnífico do misticismo nacional, é de uma tristeza confrangedora, pungente, deprimente, miserável. Não há adjectivos. A tapada do Arneiro, em Alter do Chão e a Coudelaria, onde foram paridos e criados  milhares de "filhos de vento" ou lusitanos Alter Real, ou talvez o cavalo mais bonito e mais elegante do mundo, está degradada, senão mesmo abandonada. Nem a cafetaria já abre. Da galeria foram retirados todos os objectos expostos e que eram emprestados pelos respectivos proprietários. Naturalmente. A casa dos trens está praticamente vazia, suja, esburacada. O picadeiro está degradado, foram furtadas as cadeiras das bancadas, as janelas têm os vidros partidos e as madeiras apodrecem irremediavelmente. A erva e as silvas crescem e destroem instalações que qualquer país do mundo preservaria com orgulho. O mesmo faria qualquer particular que tivesse a sorte de poder dispor dessas instalações, ainda que não da tapada. Não há palavras para descrever o que vi. Para esta brevíssima e incompleta descrição, obriguei-me a "calar" a tristeza que embarga a voz e apaga o termo. Como é possível? Há meia dúzia de anos, foi constituída a Fundação Alter Real para gerir a coudelaria e tudo o que à sua volta é suposto movimentar-se. A Escola Portuguesa de Arte Equestre, uma das melhores do mundo e como tal reconhecida durante décadas, recebia os cavalos de Alter que eram e  ainda serão ( assim o espero) trabalhados pelos mestres equitadores. 
 O que terá acontecido à capacidade de gestão dos administradores da Fundação? O que terá acontecido aos garanhões da Fonte Nova? À ilha do Tejo para onde eram enviados os potros depois da desmama? Soube, por um simples empregado ( cujo nome, obviamente oculto) que a Fonte Nova já não existe, que há meia dúzia de cavalos nas instalações da coudelaria e que os potros deixaram de ir para a ilha. As éguas que não pude ver, estavam no campo. Na desmama, exactamente. Espero que haja ração para os potros.
Tento compreender. Há um ambiente de cepticismo que me arrasta para a teoria da conspiração. A degradação da coudelaria de Alter interessará a alguém? A médio prazo, seguramente que não. A curto prazo, talvez alguns criadores de cavalos lusitanos julguem poder " lucrar" com esta situação miserável e intolerável. Que interesses terão determinado a acção da  administração da Fundação Alter Real, criada com tanta pompa e optimismo?
Há associações mentais que ninguém pode evitar. O Senhor Dr. António Borges, ao que parece, é de Alter do Chão, ou aí terá as suas origens. Na sua perspectiva, como sabemos, os empresários portugueses "são estúpidos". Reprovariam no 1º ano da "sua faculdade". Qual delas? Stanford? Londres? Insead? O Senhor, como sabemos é PH. Doctor! Director do FMI até há pouco tempo. Managing Director do Goldman Sachs, etc. etc.. Uma eminência. Com tiradas como a referida. Mas não só. Já lá vão algumas. Mas esta eminência nunca foi empresário, que se saiba. E desconhece que ser economista não é o mesmo que ser empresário. Os economistas poderão ler muitos livros. Mas poucos arriscam o seu património. Poucos têm a generosidade de criar empresas e empregos. Para ser empresário não é preciso ser-se economista. É precisa visão. è precisa coragem. Aquilo que os burocratas, por muitas influências que movam e por muito dinheiro que ganhem, não têm. Exactamente porque são burocratas. Doutos e manhosos, talvez. Arrogantes, quanto baste. Mas não são empresários. falta-lhes a generosidade e a coragem. Por isso e bem, alguém terá dito que não contrataria o Dr. António Borges.




Regressemos à Coudelaria de Alter. Que um empresário, ou um grupo de empresários portugueses salvem, com coragem e generosidade, este símbolo de um passado glorioso e que pode representar o futuro que nos foge. Ou que alguém neste desgoverno para que o país foi tristemente arrastado, tenha a lucidez de compreender o muito que está em jogo na Coudelaria de Alter, na sua preservação e na valorização do cavalo Alter Real. Alguém, na área do poder, deverá ter a cultura e a lucidez para fazer o que tem de ser feito. Inadiavelmente. Apesar de toda a sua eminência e das suas origens, não acredito que seja o Dr. António Borges. Como bom burocrata, para quem todos os outros são "estúpidos" assitirá tanquilamente à degradação da Coudelaria de Alter e ao inevitavel definhamento da própria vila de Alter do Chão. Por mim, verterei lágrimas de tristeza. Mas, por enquanto, rezo para que um milagre aconteça: à coudelaria e ao país. Não serei o único a rezar, seguramente. 

3 comentários:

  1. Num Pais onde a grande maioria se aproveita e tira partido de tudo onde poe a mao, nao ha quem pense no bem comum, ha sim quem pense no seu proprio beneficio. E lamentavel que os "Filhos do vento" acabem a conta de uns tantos Filhos da P.....

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  2. Talvez isto se resolvesse à laia de uma "Presidência Aberta".
    O Governo seria itinerante e, por exemplo ia deliberar durante uma semana para o Redondel da Cudelaria.
    Aquilo seria posto num brinquinho e as leis talvez até nem piorassem fartos que estamos de ver.... " Palha pela boca e leis pela pôpa!"

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  3. Talvez tenhas razão, joaquim. Palha pela boca!!! Merecem menos do que os nossos Alter Real.

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