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segunda-feira, 15 de dezembro de 2014

Um país das arábias.

Tive de me deslocar a uma loja dos CTT, por motivos profissionais. O que sucede raras vezes, felizmente. Como pude constatar, uma vez mais. A deslocação ocorreu numa pequena cidade de província. O desespero seria o mesmo em Lisboa ou no Porto, ao que me dizem. Também aqui há interioridades, como sabemos. Algumas graves. Mas no péssimo serviço prestado aos utentes ( clientes?) interior e litoral ombreiam. Melhor: Lisboa e Porto não ficam a rir-se. Tirei a senha da praxe, olhei de relance para o quadro digital e para os clientes que me precediam e rapidamente verifiquei que para um eventual atendimento tinha dez números e outros tantos clientes à minha frente. Aferi, também rapidamente, da rapidez e eficácia dos dois empregados ( funcionários?) e concluí que teria meia hora de espera, no mínimo. Os assentos eram apenas 3 e já estavam ocupados. Decidi empregar o tempo livre a admirar os stocks da bendita loja que já foi estação - imagine-se -. Com desmedido prazer, pude verificar que ali se vendiam livros de variadíssimas especialidades, cadernos, lápis, malas e carteiras, enfim tudo o que dignifica uma "superfície comercial". Dei comigo a pensar nos diferentes negócios de compra e venda de talheres, serviços de mesa, seguros, objectos de ouro, prata e quejandos que diariamente se efectuam aos balcões dos bancos. A capacidade jurídica das pessoas colectivas -. diz-se - compreende-se no âmbito do princípio da especialidade, isto é, compreende os direitos e as obrigações necessárias ou convenientes à prossecução do seu fim ( artº 6º do Código das Sociedades Comerciais). Será que os bancos têm um objecto social tão abrangente que lhes permite torpedear os estabelecimentos comerciais que têm por objecto principal exactamente aquilo que para eles é um mero acessório? Será que os agora novos accionistas dos CTT ( Deutsche Bank e Goldman Sachs, designadamente) se candidataram a comprar também uma rede de livrarias, uma rede de papelarias, de brindes, presentes e não só, em detrimento de todo o comércio destes ramos que sobrevive tão dificilmente? Sabemos que o governo lançou e concretizará o engodo chorudo do Banco Postal para enquadrar também os certificados de aforro ( designadamente) que há muito comercializam ( ou colocam?).  Pouco tardará. E será que venderão um dia destes também camisas, cafés, bolos e snacks  como sucede com a Galp e restantes vendedores de combustíveis? Todas as grandes empresas podem ladear as regras do mercado com a bênção ou mera indiferença dos poderes públicos. É notável a hipocrisia dos que diariamente se desfazem em loas às pequenas e médias empresas. Voltando aos CTT: decidi verificar os novos estatutos. Aprovados em assembleia geral de Março de 2014. Novíssimos. O objecto social vem no artº 3º: ...a) assegurar o estabelecimento, gestão e exploração das infraestruturas e do serviço público de correios; e ainda alíneas b) e c); actividades complementares, subsidiárias ou acessórias ( dos correios ) e a prestação de serviços financeiros, directamente ou através de entidade dependente. Isto para ser sucinto. Como é bom de ver, já aqui está o desejado banco postal, que levou os accionistas, particularmente os já mencionados, a apostar na bem sucedida privatização. Confesso que pouco me importa a concorrência que os CTT possam vir a representar para os bancos. Terão sempre o privilégio de fugir às regras impiedosas do mercado. Todos eles. Por isso, a sua gestão pode apresentar a competência que os Portugueses têm admirado de há uns anos para cá. Em bom rigor, os bancos nem precisam de clientes. Das mais variadas e distorcidas formas têm contribuintes. Por isso os clientes são um mero pormenor. Mas entendo que é intolerável a concorrência desleal que as grandes empresas da esfera pública fazem ao comércio tradicional quando vendem como acessório aquilo que para as micro, pequenas e médias empresas é absolutamente indispensável à sua sobrevivência. Porque não actua aqui a fiscalização? Porque não actuam os reguladores? Onde anda a celebérrima e temida ASAE ? Nas feiras? Será daí - dessas eventuais contrafacções - que advém a estagnação económica e o subdesenvolvimento social?
Ah! Os CTT. Demorei um pouco mais do que a meia hora prevista. E só aviei metade das minhas duas pretensões. Enviei uma carta registada. Mas não pude levantar a do aviso: o António ( carteiro) ainda não tinha chegado. - Volte mais tarde. -
Que remédio. Como Português que sou, também fui convencido há uns que - agora sim - gozo de todos os direitos de cidadania.

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