Artigo lúcido e corajoso, o do bastonário da Ordem dos Advogados, Marinho Pinto, no JN, de que o título deste apontamento é um plágio. O artigo foca o caso da Senhora morta em casa e cujo corpo só 9 anos depois foi descoberto, como resultado de uma venda do apartamento pelas Finanças para cobrança de uma dívida fiscal insignificante.
Tal como foi inicialmente relatado pelos meios de comunicação, o caso fazia com que nos ocorresse a eventual negligência das autoridades mas também a dramática falta de solidariedade que leva cada vez mais à indiferença de vizinhos e até de familiares no modo de vida da sociedade actual, particularmente nas cidades maiores. Não que as duas causas se excluam, evidentemente. Mas a primeira poderia ser atenuada pela possivel existência da segunda.
Mas não. Marinho Pinto fornece informação concludente de que familiares e até amigos se interessaram pelo desaparecimento da Senhora. Quem não agiu e quem impediu até que se agisse com alguma eficácia foi o Ministério Público do Tribunal de Sintra. Tratar-se-á, assim sendo, de clara negligência e até de manifesta incompetência: uma e outra determinadas pela arrogância característica da mediocridade e da insensibilidade. Numa palavra, com inquéritos do PG ou sem inquéritos, as apontadas características são a negação do espírito de uma Magistratura. Seja a Judicial, seja a do Ministério Público. Como sempre, o mais provável é que também aqui não haja responsáveis. O que me espanta, o que verdadeiramente me espanta, é que este País não grite em uníssono que a mediocridade, a insensibilidade social, a negligência e a incompetência estão efectivamente a tornar Portugal um País insuportável. Bem mais insuportável do que o dia de hoje: frio, cinzento, ventoso e com trovões e rajadas de chuva.
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