Pesquisar neste blogue

sexta-feira, 30 de dezembro de 2011

Em jeito de balancete

Um ano difícil de esquecer, ainda que nos atormente a brevidade do tempo. A crise do euro. Esperada para gente atenta, conhecedora e previdente. Uma união com diferenças abismais na economia real e na produtividade e com a mesma moeda, só podia dar nisto. Mais tarde ou mais cedo. Claro que as metásteses do chamado sub-prime acelerou o veículo e libertou a pressão da panela. Quando a Reserva Federal baixava juros para ajudar a economia real, ainda os burocratas de Bruxelas e do BCE aumentavam as taxas de referência e a Euribor, por conseguinte. Foi o que se viu. Não admira que o nosso Sócrates tenha decidido, irresponsavelmente, iludir o País até a um tempo patético. Quando pediu ajuda já estávamos à beira do abismo. Onde ainda estamos. De onde sairemos ( oxalá), mas não tão depressa como todos gostaríamos. E não seguramente, trilhando o caminho usual de culparmos os outros: troika, Merkel, mercados, capitalistas, tudo em nome do mesmo que aqui nos trouxe: a irresponsabilidade individual e social. A incapacidade de aprendermos com os erros.
Outro sintoma que me desanima é  tendência para a mediocridade que vejo e sinto alastrar como óleo derramado no tecido social. Basta pensar naquilo que se passa com as emissões de televisão. Como é triste um país ter os horários nobres de televisão ocupados com os gordos e com a casa dos segredos. A mediocridade, como a má moeda, tem a capacidade para expulsar quem é melhor: expõe-se mediaticamente por incapacidade para se ver- patética e triste -. Ouve-se rádio, vê-se televisão e a mediocridade assoma em todas as esquinas. Alarvemente, é claro. Nos últimos dias, as novidades vieram do Oriente ou a ele estiveram ligadas: a morte do querido lider da Coreia do Norte. Como é possível todo aquele carpir? Como é possível que o PCP se associe à dor do povo Coreano? Como é possível a Coreia do Norte em 2012? E a China ganhou os 23% do capital da EDP que ainda eram do Estado Português. Foram para uma empresa totalmente pública do Estado Chinês. - Enfim, quem pode pode, quem não pode arreia, diz o povo -. Estive em Pequim em Maio de 2010. Tudo aquilo está além da nossa mentalidade e da nossa imaginação. Aquele "social-fascismo" arrepia, como muitos comentam. E a estratégia de conquista do mundo por meios económicos é deveras espantosa! Quando o Presidente Obama tentava há meses convencer os republicanos a votarem favoravelmente o tecto de endividamento dos USA, um senador comentava, pelo que ouvi na rádio: não é o maior endividamento em si que me preocupa. O que me preocupa é que grande parte da nossa dívida está nas mãos dos chineses....Bom, não quero ser pessimista. Esperemos para ver. Mas não me parece sensato pensar que, assumindo-nos como caminho ou vereda dos investimentos estratégicos chineses na Europa ( admitindo mesmo isso), possamos ver aí apenas benefícios. Mas, admite-se que em período de necessidade, poucas opções nos restam. 
Oxalá que o tempo tenha mais olhos que barriga!

sábado, 24 de dezembro de 2011

Natal

Assumo a possibilidade de alguém ver neste começo algum pedantismo. Quis intitular esta entrada como semiótica e crise. Curiosamente, o Dicionário da Academia de Ciências de Lisboa ( o tal que demorou anos ou décadas - nem sei -) não tem qualquer entrada para semiótica. Poderia ser por complexo purista e definir semiologia. Ao que parece, semiótica vem mais na tradição anglo-saxónica. Mas não. Também não apresenta qualquer entrada para semiologia. Estranho! O Ilustrado da Porto Editora - que considero fraquito - tem o essencial. Como é sabido, a Semiótica foi objecto de estudos importantíssimos de um professor universitário ( de Semiótica), filósofo e escritor famoso, de seu nome, Umberto Eco. Tratado Geral de Semiótica e As formas do Conteúdo, -para não dizer mais - são obras e produtos de estudos importantíssimos de investigação que Eco exercitou até em romances como o inexcedível Nome da Rosa. Bom. Mas basta do Dicionário da Academia. Eles lá sabem porque utilizaram estes critérios. O que queria dizer era do sentido, do significado do presépio. Significado milenar. Independente da crença ou religiosidade de todos os que honestamente e com sensibilidade meditam e meditaram sobre o presépio e os seus insondáveis mistérios semióticos. Lembro Miguel Torga - que conheci, por felicidade, nos meus 20 anos, em Coimbra, em duas ou três pequenas conversas-. O Natal é um tema recorrente. Terá seguramente três ou quatro poemas sobre o Natal. E todavia, ao que julgo saber, era agnóstico. Porque o Natal é ainda o símbolo mais rico para o amor e sê-lo-á sempre, cito de memória, -com o risco de o adulterar - um poema de Miguel Torga: Lembro o teu nome/ nas páginas da noite/ menino Deus/ e fico a meditar/ no milagre dobrado/ de seres Deus e menino/. Em Deus não acredito/ mas de ti, como posso duvidar?/ Todos os dias nascem meninos pobres em currais de gado/ humanas alvoradas/ a divindade é o menos.

(Direi apenas, a terminar) que esta imagem do presépio foi encontrada por acaso num blog: de Dilti Xavier Lopes, encabeçando a Janela da Alma. Espero que a Dilti não considere abusiva a reprodução.







quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

Crucifiquem-no

 
Crucifiquem-no!

( Diz-lhes Pilatos: Tomem-no vocês e crucifiquem-no, porque eu não encontro culpa nele.)

Sejamos claros: vinda de um primeiro-ministro, a sugestão para emigrar é uma inabilidade política. Para quem está bem intencionado, representa uma frontalidade despida de enfeites, a que ninguém está habituado. Á frontalidade. Não à emigração. Enquanto comunidade, desabituámos-nos também da verdade, como sabemos. Há décadas, mas com especial ênfase nos últimos anos. Mas há sempre quem queira viver de ilusões. E peça, reiteradamente, uma mentirinha sob a roupagem do positivismo e da esperança. Que é necessária, claro está. É sempre necessária. Também por isso a sugestão é inábil e pode ser negativa. Mesmo neste momento.
A emigração- toda ela- é economicamente desastrosa para qualquer comunidade. Mais ainda quando se trata de jovens qualificados cuja formação custou muito dinheiro ao País. O primeiro-ministro não o sabe? Claro que sabe. Por muito que os barões do seu partido e tanti quanti queiram aproveitar-se dessa inabilidade, a verdade é que só um governante desesperado pela perspectiva de vir a não ter dinheiro para subsídios de desemprego pode sobreavaliar, em seu juízo, um hipotético melhor futuro individual, ao bem-estar colectivo. Ao desejável bem-estar colectivo de que depende a sua reeleição. Julgo que apesar da inabilidade, o PM ponderou estes dois momentos. Para além da referida desgraça que a emigração sempre representa, teremos de reconhecer que ela é um pouco menor se a mais valia for levada para Países de língua portuguesa. Há uma pequena hipótese de virmos a amenizar os prejuízos através da influência da língua. Sem acordo ortográfico. Este, ah! bom! A este digo com seriedade: crucifiquem-no.
              

sábado, 17 de dezembro de 2011

Dívida, garotices & companhia

O deputado Pedro Santos ficou, subitamente, famoso pelo facto de ter dito aquilo que todos os outros e muitos socialistas e companheiros de route - mesmo não deputados - verdadeiramente pensam. Os "banqueiros" alemães e franceses já tremelicam de medo só com a perspectiva de não pagarmos a dívida. Logo, em bom rigor, esta declaração ajuda a actual maoiria a gerir a mesma dívida. E só isto é necessário. Nunca pagá-la porque ela é eterna.  Como diria o deputado Acácio (da UDP ) os ricos que paguem a crise. Agora é a Merkl e o Sarkozy, esses desavergonhados, que se atrevem a dizer que temos de produzir o equivalente ao que consumimos. Então para que diabo será a solidariedade? Esta Europa não está bem. Não  tem líderes. Razão tem- uma vez mais - o papa doctor Soares. Tanta garotice de gente com responsabilidades políticas, impõe que nos questionemos. Quem deu tamanha responsabilidade a esta gente? Todos nós ou melhor, a maioria daqueles que votam. Como aqueles que votam já são a minoria dos que poderiam votar, por que continuaremos a encher diariamente a boca com a imagem florida da democracia? Os fetiches são imprescindíveis. A democracia tornou-se o fetiche dos nossos dias. Em nome dela são possíveis todas as imbecilidades. E ai de quem se atreva a defender uma ideia séria, ainda que genial, sem o aval do cheiro democrático. Na gestão da coisa pública só vale o que for democrático. É democrático tudo o que for da conveniência dos "participantes", "activistas" "oportunistas", o outros "istas": desde que se mantenha a ilusão da mencionada maioria. Em boa verdade, bem mais importante do que a dívida ( que alguém pagará), bem mais importante do que a dignidade ( coisa do passado), bem mais importante do que tudo, é simular a aprovação ou mero consentimento da maioria para todas as imbecilidades e garotices.  E Viva a Democracia.

sábado, 3 de dezembro de 2011

Falácias e Democracia

Como todos sabemos, é tratado pelo pai da democracia portuguesa. Pouco importa. Cada um tem o pai que merece! Tratando-se de regimes políticos, deverá haver também alguma transmissão genética. Digo eu. O facto é que, normalmente avesso a personalizar questões, não posso deixar de referir aqui - escrito informático que por vezes me lembro de actualizar - dois comentários que li em dias seguidos na imprensa portuguesa, ambos citando - ao que parece - o Dr. Mário Soares: ex-secretário-geral do ps, ex-primeiro-ministro, ex-presidente da república, ex-candidato à mesma, ex-candidato a presidente do parlamento europeu, ex-democrata(?). Será? Vamos às citações: primeira: "se a Europa não mudar é preciso fazer uma revolução". A segunda: " é preciso bater o pé à troika". Reconheçamos: o macho despeitado que apelidou a "outra" de dona de casa, está cada vez mais lúcido, mais claro e mais desafrontado. Julgámos que a grande diferença entre a democracia e todos os restantes regimes residisse exactamente no facto de, naquela, não haver revoluções. As mudanças seriam determinadas pelo voto popular. Eleitoralmente. Os portugueses ouviram esta verdade insofismável do pai da sua democracia muitas vezes, ao que julgo. Enganámo-nos. Se a Europa não mudar ( em quê e para quê, eis a questão) façamos uma revolução. Mudêmo-la pela força das armas, dos tanques, dos submarinos, do que quer que seja. Mas mudêmo-la. Claro que a mudança desejável é no sentido de a Alemanha, onde o ps nasceu em 1973, ter de pagar os desvarios dos socialistas portugueses e não só. Que dianho. Eles que trabalhem. Os folguedos são connosco. ( Há séculos, os folguedos da fidalguia mataram o príncipe D. Afonso em Santarém e as nossas aspirações à junção pacífica das coroas de Portugal e de Castela. Ha! Ha! Com cultura é outra coisa! A histórica. Não a do tomate.). Mas também é preciso bater o pé à troika. Não sei se fomos nós que os chamámos, se foram eles que nos invadiram. ( Gosto do nome troika por ser muito Putin, logo, muito democrata.) Seja como for, é preciso bater-lhes o pé. Não é exactamente o mesmo que pateá-los. É só bater-lhes o pé. De birra. Ou de confronto. Que dificuldade terá o Dr. Soares ( e já agora também o Ulrich) em confrontar económicamente técnicos de 6ª ou de 7ª linha? Bata-se-lhes o pé, claro está. E, se necessário, retiremos-lhes os subsídios em 2012. Para aprenderem, pois claro. Este país é de uma serenidade única. O Dr. Soares é de uma seriedade, serenidade e segurança únicas. Todos pensam que não aprecia o Seguro. Mas devem estar enganados. Só um bom seguro permite que nos acomodemos em tamanha lucidez. O Dr. Soares tem um bom seguro e é de uma lucidez invejável. Quod erat demonstrandum.