A entrada de hoje é a reprodução de um artigo da minha filha Joana Barrios publicado na revista do Sol desta semana Tabu, onde colabora semanalmente. Só a imagem é outra. É com orgulho que reproduzo aqui o "Praxeneta". É um orgulho para qualquer pai ter uma filha que pensa e escreve bem.
"Acredito
que a pertença acrítica e submissa a um grupo hierarquizado é o maior travão ao
desenvolvimento do indivíduo enquanto ser pensante ou vice versa.
Não fui de uma tuna, não andei em nenhuma escola dotada de tuna. E dou graças por isso.
Quando começam as aulas, há desfiles degradantes de adolescentes pelas ruas de todas as cidades que tiverem estabelecimentos de ensino superior, enquanto entoam cânticos absurdos, e bebem zurrapas de garrafas indistintas ou cerveja choca em copo de plástico. As pessoas normalmente queixam-se do barulho que fazem estes desfiles e não do que neles está implícito. Os jovens que se costumam encontrar nestes preparos são sempre comandados por uns mais velhinhos, que demoram uma eternidade a tirar o curso, mas que no ambiente académico não parecem ter nada de errado.
Como não conheço nenhum elemento de nenhuma tuna, a minha opinião acerca desses ajuntamentos foi sempre negativa. Depois... Tudo aquilo que se ouve e lê, também não abona muito a favor dessas pessoas e/ou práticas e tudo piora um pouco.
Este ano lectivo a coisa correu muito, muito mal, e o que parecia ser apenas uma manifestação sazonal preocupante e socialmente tolerada de acefalia generalizada, incubável até às primeiras avaliações do ensino superior, assumiu contornos macabros. Não páram de surgir notícias sobre o assunto Meco com detalhes cada vez mais escabrosos acerca do que se terá passado na noite em que os seis caloiros foram arrastados pelo mar enquanto se submetiam às indicações de um Dux que continua em silêncio.
Infelizmente a sociedade não prepara os seus jovens para o exercício de juízo crítico. Quer seja na escola ou em casa, a infantilização e desresponsabilização dos jovens é uma realidade praticada por adultos superprotectores e por um sistema ao qual dá muito jeito que sejamos jovens (não pensantes) até mais tarde. A importância de usar a cabeça para pensar. De treinar cérebros que ainda não estão em fuga, não ter expressão. É pena.
Carneirada. Ou pertencer.
É tudo muito mais fácil quando se pertence seja ao que for (e para os puristas, sim, pertence-se sempre a alguma coisa).
Pertencer significa que há certas coisas que não vamos ter de fazer ou viver sozinhos (e é real: também ninguém ensina a estar sozinho), porque vai haver sempre uma estrutura solidária que ampara quedas. O crescimento conduz ao afastamento natural (e a um certo desprezo) do núcleo familiar e à construção de uma rede social própria, à medida do que somos. Essa rede pode definir-se por regime alimentar, estilo de música, profissão, desporto... E é extremamente importante encontrar pessoas que gostem das mesmas coisas, que falem a mesma língua, que funcionem como mentores extra-familiares. Nessas estruturas, há amigos. E há amizade e lealdade e consciência.
Se a adolescência é eterna e afinal ninguém se preocupa muito em ensinar a pensar, então isto vai continuar a correr mal. E não é a proibição nem a distanciação estética da morfologia trágica do traje, nem o medo imposto por acidentes anteriores que vai resolver esta questão cada vez mais polémica das praxes.
Era só treinar o cérebro para que fosse muito fácil discernir que obedecer às ordens de uma pessoa que anda a tirar um curso há duas décadas não deve ser lá grande charuto, ou que, mais que não seja, beber vinho mau dá ressacas ainda piores ou que a música das festas académicas é um lixo!?!
Se em qualquer tribo, os rituais de iniciação são acompanhados, sérios, respeitáveis, construtivos e implicam uma espécie de crescimento, porque é que nesta tribo das capas pretas, é tão comum a taxa de insucesso?
Não fui de uma tuna, não andei em nenhuma escola dotada de tuna. E dou graças por isso.
Quando começam as aulas, há desfiles degradantes de adolescentes pelas ruas de todas as cidades que tiverem estabelecimentos de ensino superior, enquanto entoam cânticos absurdos, e bebem zurrapas de garrafas indistintas ou cerveja choca em copo de plástico. As pessoas normalmente queixam-se do barulho que fazem estes desfiles e não do que neles está implícito. Os jovens que se costumam encontrar nestes preparos são sempre comandados por uns mais velhinhos, que demoram uma eternidade a tirar o curso, mas que no ambiente académico não parecem ter nada de errado.
Como não conheço nenhum elemento de nenhuma tuna, a minha opinião acerca desses ajuntamentos foi sempre negativa. Depois... Tudo aquilo que se ouve e lê, também não abona muito a favor dessas pessoas e/ou práticas e tudo piora um pouco.
Este ano lectivo a coisa correu muito, muito mal, e o que parecia ser apenas uma manifestação sazonal preocupante e socialmente tolerada de acefalia generalizada, incubável até às primeiras avaliações do ensino superior, assumiu contornos macabros. Não páram de surgir notícias sobre o assunto Meco com detalhes cada vez mais escabrosos acerca do que se terá passado na noite em que os seis caloiros foram arrastados pelo mar enquanto se submetiam às indicações de um Dux que continua em silêncio.
Infelizmente a sociedade não prepara os seus jovens para o exercício de juízo crítico. Quer seja na escola ou em casa, a infantilização e desresponsabilização dos jovens é uma realidade praticada por adultos superprotectores e por um sistema ao qual dá muito jeito que sejamos jovens (não pensantes) até mais tarde. A importância de usar a cabeça para pensar. De treinar cérebros que ainda não estão em fuga, não ter expressão. É pena.
Carneirada. Ou pertencer.
É tudo muito mais fácil quando se pertence seja ao que for (e para os puristas, sim, pertence-se sempre a alguma coisa).
Pertencer significa que há certas coisas que não vamos ter de fazer ou viver sozinhos (e é real: também ninguém ensina a estar sozinho), porque vai haver sempre uma estrutura solidária que ampara quedas. O crescimento conduz ao afastamento natural (e a um certo desprezo) do núcleo familiar e à construção de uma rede social própria, à medida do que somos. Essa rede pode definir-se por regime alimentar, estilo de música, profissão, desporto... E é extremamente importante encontrar pessoas que gostem das mesmas coisas, que falem a mesma língua, que funcionem como mentores extra-familiares. Nessas estruturas, há amigos. E há amizade e lealdade e consciência.
Se a adolescência é eterna e afinal ninguém se preocupa muito em ensinar a pensar, então isto vai continuar a correr mal. E não é a proibição nem a distanciação estética da morfologia trágica do traje, nem o medo imposto por acidentes anteriores que vai resolver esta questão cada vez mais polémica das praxes.
Era só treinar o cérebro para que fosse muito fácil discernir que obedecer às ordens de uma pessoa que anda a tirar um curso há duas décadas não deve ser lá grande charuto, ou que, mais que não seja, beber vinho mau dá ressacas ainda piores ou que a música das festas académicas é um lixo!?!
Se em qualquer tribo, os rituais de iniciação são acompanhados, sérios, respeitáveis, construtivos e implicam uma espécie de crescimento, porque é que nesta tribo das capas pretas, é tão comum a taxa de insucesso?
Joana Barrios