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sábado, 20 de junho de 2020

Fanfarronadas


A notícia é recente mas já ecoa pelas chamadas redes sociais. É digna dessa honra. O Senhor Ministro dos Negócios Estrangeiros Português, de seu nome Augusto Santos Silva, mostrou-se agastado, irritado e pronto para a luta  a propósito de dez países europeus impedirem ou condicionarem a entrada de portugueses, uma vez abertas as suas fronteiras. Também li a notícia. No dia seguinte ao foguetório pelo facto de os jogos finais da champions se realizarem em Lisboa e, talvez, Porto e Guimarães. Também isto teve honras de discursos laudatórios em Belém. O costume, com a inevitável ênfase presidencial a que seguramente se seguirá, dentro de pouco tempo, uma condecoração. Já há uns tempos o Senhor ministro levantara a crista ao espanhol Sanchez quando este anunciou a intenção de abrir a fronteira com Portugal no dia 21 de Junho. Parece que a questão agora se inverteu. Quem manda nas fronteiras portuguesas é o governo de Portugal, dizia então. Sem qualquer dúvida Senhor Ministro.  Enfim, o senhor ministro admitiu mesmo a hipótese de retaliar contra esses ingratos que não reconhecem o milagre português no combate á pandemia. Também li a notícia. Paradigma daquilo que se passa neste passeio alegre à beira mar plantado. Face à catástrofe económica resultante de medidas com pouca ponderação e racionalidade, algumas delas, o governo abre o país à espera que o turismo faça desabrochar as rosas do esperado milagre. Outro milagre porque somos terreno fértil. Simultaneamente, o primeiro ministro Costa alude ao prazer de um Algarve sem enchentes - que experimentou - para apelar aos turistas nacionais, presumo. E diz também  que os jogos europeus representam um merecido prémio para os profissionais da saúde (!) Assim. Exemplo de contenção e rigor. Como se espera de um primeiro ministro. Sempre que algum facto ou fantasia reconhece ou sugere uma participação meritória de um português, o foguetório e gabarolice enchem o ego nacional. Os feitos colectivos são vitórias festejadas e guardadas na memória dos tempos. Estes governantes - ao que parece - precisam de constantes compensações de uma pequenez que entristece. Quando a realidade não nos beneficia, valemo-mo-nos até de hipotéticas retaliações. E testamos. Somos aqueles que mais testamos alegam agora. Por isso, os números menos favoráveis de novos contágios. Nisso rivalizamos com o Senhor Trump. Em retórica barata, quero dizer. Se não testarmos, acabamos com o vírus. Qual é a dúvida?
O senhor não dirigiu a retaliação aos países que duvidaram ou duvidam do milagre português. Até porque os milagres não se analisam  por um único critério, como agora se afirma. A hipotética retaliação é dirigida ao ego dos patriotas. Ou será também aos filhos do embaixador do Iraque?
Este Ministro gosta de malhar na direita. Consabidamente. Esperemos que não se afeiçoe a malhar na Dinamarca, na Áustria e nos restantes inimigos figadais da bravura lusitana.

quinta-feira, 11 de junho de 2020

A pandemia do medo

Demitiu-se o ministro das Finanças Mário Centeno. Melhor: foi exonerado a seu pedido, conforme divulgação oficial. Com muitos encómios de várias latitudes. Por alguma razão dirigiu o chamado Eurogrupo, diz-se. Sou céptico relativamente à personagem. E nem sempre os cargos e funções na UE implicam grande competência, caracter e hombridade. Mas enfim. Que diminuíu os sistemáticos déficits nacionais, é inegável. Que se vangloriou de primeiro saldo positivo da democracia, não há qualquer dúvida. Aí fez coro com o primeiro ministro - naturalmente - e até com o Presidente da República. Naturalmente. Porque o inquilino de Belém faz coro com tudo e todos que ajudem a sublimar~lhe o ego. Outros dizem que o controlo das contas públicas se deve a vários truques contabilísticos, entre os quais as célebres e propaladas cativações.  E acrescentam já que tais cativações são da autoria "genial" do seu sucessor até aqui secretário de estado do orçamento. As cativações, da autoria de um ou dos dois, traduziram-se num verdadeiro desinvestimento em serviços públicos essenciais, como a saúde e a educação. A memória dos homens é curta. Há quatro meses, a situação era uma evidência. A pandemia tornou tudo muito distante. Todavia, o medo instigado por medidas avulsas, pouco coerentes e que dificilmente poderão ser revertidas - como se verá, infelizmente - ficam a dever-se apenas ao medo dos responsáveis pelo colapso do serviço nacional de saúde. Foi tudo para o COVID-19. Eu próprio experienciei esta triste realidade uma noite na urgência do Hospital de Évora. Há uma semana, um cardiologista do Hospital de Santa Maria confirmava-me esta mesma situação. O SNS colapsou mesmo, apesar dos mantos pouco diáfanos com que envolvem a realidade. Colapsou desnecessariamente, talvez. Dizia o cardiologista que, durante dois meses não houve doentes com problemas coronários graves, designadamente AVC's ou enfartes do miocárdio.  - Morreram em casa- afirmou. Não de coronavirus mas devido ao coronavirus. Devido ao medo que governantes impreparados mas arrogantes, instalaram numa população incauta e amestrada, pronta a prestar vassalagem a quem lhe retirou todas as liberdades. Até a liberdade de pensamento. Começamos a assistir à divulgação pelos meios de comunicação social desta sensação de pusilanimidade colectiva que tolheu e continua a tolher este pobre país incapaz de discernir a tempo a verdade no meio dos discursos inconsequentes que quotidianamente são derramados sobre o seu entendimento. Grave, verdadeiramente grave é o vírus do medo. Esta pandemia levará gerações a debelar. Não digo vencer. Apenas debelar. É triste, muito triste, verificar que gente jovem acata servilmente discursos medíocres que lhe roubam os mais elementares direitos e liberdades, instalando o medo e invocando despudoradamente o "direito à saúde." É triste, muito triste ver uma grande parte da população bater palmas a quem  nos tratou e trata como crianças ou como débeis mentais. Enfim, demitiu-se o Ministro das Finanças. Parece que foi uma exoneração anunciada desde que revelou ou teve de revelar que o Senhor Primeiro Ministro mentira quando afirmara no Parlamento  nada saber sobre mais uma transferência de 850 milhões de euros para o Novo Banco. Trata-se de uma costumeira apetência do senhor primeiro ministro. Nunca sabe nada. Não foi assim no caso Tancos? Não soube, não sabia, não sabe de nada. Como se a ignorância desculpabilizasse um governante que tinha e tem a obrigação de saber. Valha-nos Santo António, com sardinhas socialmente distanciadas. Vejam bem.