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segunda-feira, 15 de dezembro de 2014

Um país das arábias.

Tive de me deslocar a uma loja dos CTT, por motivos profissionais. O que sucede raras vezes, felizmente. Como pude constatar, uma vez mais. A deslocação ocorreu numa pequena cidade de província. O desespero seria o mesmo em Lisboa ou no Porto, ao que me dizem. Também aqui há interioridades, como sabemos. Algumas graves. Mas no péssimo serviço prestado aos utentes ( clientes?) interior e litoral ombreiam. Melhor: Lisboa e Porto não ficam a rir-se. Tirei a senha da praxe, olhei de relance para o quadro digital e para os clientes que me precediam e rapidamente verifiquei que para um eventual atendimento tinha dez números e outros tantos clientes à minha frente. Aferi, também rapidamente, da rapidez e eficácia dos dois empregados ( funcionários?) e concluí que teria meia hora de espera, no mínimo. Os assentos eram apenas 3 e já estavam ocupados. Decidi empregar o tempo livre a admirar os stocks da bendita loja que já foi estação - imagine-se -. Com desmedido prazer, pude verificar que ali se vendiam livros de variadíssimas especialidades, cadernos, lápis, malas e carteiras, enfim tudo o que dignifica uma "superfície comercial". Dei comigo a pensar nos diferentes negócios de compra e venda de talheres, serviços de mesa, seguros, objectos de ouro, prata e quejandos que diariamente se efectuam aos balcões dos bancos. A capacidade jurídica das pessoas colectivas -. diz-se - compreende-se no âmbito do princípio da especialidade, isto é, compreende os direitos e as obrigações necessárias ou convenientes à prossecução do seu fim ( artº 6º do Código das Sociedades Comerciais). Será que os bancos têm um objecto social tão abrangente que lhes permite torpedear os estabelecimentos comerciais que têm por objecto principal exactamente aquilo que para eles é um mero acessório? Será que os agora novos accionistas dos CTT ( Deutsche Bank e Goldman Sachs, designadamente) se candidataram a comprar também uma rede de livrarias, uma rede de papelarias, de brindes, presentes e não só, em detrimento de todo o comércio destes ramos que sobrevive tão dificilmente? Sabemos que o governo lançou e concretizará o engodo chorudo do Banco Postal para enquadrar também os certificados de aforro ( designadamente) que há muito comercializam ( ou colocam?).  Pouco tardará. E será que venderão um dia destes também camisas, cafés, bolos e snacks  como sucede com a Galp e restantes vendedores de combustíveis? Todas as grandes empresas podem ladear as regras do mercado com a bênção ou mera indiferença dos poderes públicos. É notável a hipocrisia dos que diariamente se desfazem em loas às pequenas e médias empresas. Voltando aos CTT: decidi verificar os novos estatutos. Aprovados em assembleia geral de Março de 2014. Novíssimos. O objecto social vem no artº 3º: ...a) assegurar o estabelecimento, gestão e exploração das infraestruturas e do serviço público de correios; e ainda alíneas b) e c); actividades complementares, subsidiárias ou acessórias ( dos correios ) e a prestação de serviços financeiros, directamente ou através de entidade dependente. Isto para ser sucinto. Como é bom de ver, já aqui está o desejado banco postal, que levou os accionistas, particularmente os já mencionados, a apostar na bem sucedida privatização. Confesso que pouco me importa a concorrência que os CTT possam vir a representar para os bancos. Terão sempre o privilégio de fugir às regras impiedosas do mercado. Todos eles. Por isso, a sua gestão pode apresentar a competência que os Portugueses têm admirado de há uns anos para cá. Em bom rigor, os bancos nem precisam de clientes. Das mais variadas e distorcidas formas têm contribuintes. Por isso os clientes são um mero pormenor. Mas entendo que é intolerável a concorrência desleal que as grandes empresas da esfera pública fazem ao comércio tradicional quando vendem como acessório aquilo que para as micro, pequenas e médias empresas é absolutamente indispensável à sua sobrevivência. Porque não actua aqui a fiscalização? Porque não actuam os reguladores? Onde anda a celebérrima e temida ASAE ? Nas feiras? Será daí - dessas eventuais contrafacções - que advém a estagnação económica e o subdesenvolvimento social?
Ah! Os CTT. Demorei um pouco mais do que a meia hora prevista. E só aviei metade das minhas duas pretensões. Enviei uma carta registada. Mas não pude levantar a do aviso: o António ( carteiro) ainda não tinha chegado. - Volte mais tarde. -
Que remédio. Como Português que sou, também fui convencido há uns que - agora sim - gozo de todos os direitos de cidadania.

domingo, 30 de novembro de 2014

A Cólera do Patriarca

Mário Soares no exterior do estabelecimento prisional de Évora; antes e após ter visitado o seu camarada José Sócrates. As declarações e sobretudo as imagens deste ancião foram patéticas. Mas também obscenas. E significativas. Permitem-nos entender muito do que se tem passado neste pobre País. O patriarca Soares foi e é um privilegiado. Mais. Entende que tem o dom de atribuir alguns dos seus privilégios aos camaradas que, pontualmente elege, de acordo com os humores do momento.Ficámos a saber que Sócrates foi um primeiro ministro exemplar. Ficámos a saber que isto é um caso político e que os malandros trataram o José Sócrates - uma grande figura - como um cão. Ficámos a saber que todos os socialistas estão contra esta bandalheira.
Temos de voltar ao segredo de Justiça. É espantosa a leviandade com que meio mundo- e até gente com responsabilidade - continua a ignorar que a regra, desde as alterações legislativas ao Código de Processo Penal decorrentes da Lei 48/2007 de 20 de Agosto, a regra, dizíamos, não é a de que os inquéritos decorram em segredo de justiça, mas sim que sejam públicos ( artº 86º do CPP).  Neste caso só haverá segredo de justiça durante o inquérito, se qualquer dos arguidos o tiver requerido e o Juiz de Instrução, ouvido o Ministério Público, assim decidir considerando que, da publicidade, podem decorrer prejuízos para os intervenientes processuais. Quando decidido pelo MP deve ser validada a decisão pelo Juiz de instrução no prazo máximo de 72 horas. Bolas. Porque será que toda a gente finge viver antes de Setembro de 2007? Ainda para disfarçar, ao que penso, alguns falam de fuga de informação! Como se fossem a mesma coisa.
Mas não é transparência na vida pública que todos têm defendido? Se o crime de corrupção é um dos ilícitos penais atribuídos a Sócrates e a dois outros arguidos, não seria desejável que todo o inquérito decorresse livre de qualquer segredo? Quer para uma eventual acusação, quer para uma eventual absolvição. Durante anos, muitos anos - décadas - o único crime que se cometia em Portugal era a violação do segredo de Justiça. Não estão lembrados? O maldito segredo de justiça era utilizado para tudo: para confundir os processos, para alimentar a curiosidade da comunicação social, para justificar a ineficácia das instituições, para deixar passar o que se entendia conveniente, etc. Para tudo. Em Portugal foi o  único crime que, pelo objecto ou pelos nomes envolvidos, tinham repercussão social. E talvez por isso mesmo, fosse útil a algumas pessoas deturpar, obstruir ou mesmo inutilizar inquéritos. O que nos levava a perguntar: o que se passará em todos aqueles Estados - verdadeiros Estados de Direito - onde não existe e nunca existiu esse medonho e fastasmagórico segredo de justiça? Onde a Polícia investiga, o Ministério Público acusa quando entende que tem matéria para tanto, e os Juízes julgam?
Outra questão: porque será que aqueles que vociferam contra a violação do segredo de justiça, neste caso, são os mesmos que entendem que devem ser tornados públicos os factos e as razões que levaram o juiz de instrução a decidir a prisão preventiva? Sou contra a prisão preventiva, a não ser em casos excepcionais. Já o disse, Não vou repisar esta questão. Mas a incongruência e a má fé de comentadores ou opinion makers é verdadeiramente extraordinária.
O Patriarca Mário Soares viveu sempre rodeado de privilégios. Após o 25 de Abril isto é uma verdade indiscutível. Fico-me por este período mais conhecido porque me recuso a alinhar em boatos que também circulam há décadas sobre o período anterior. Os seus mais directos apaniguados no PS foram obrigados a assumir uma de duas posições: ou prestavam vassalagem ou eram eliminados. Não mencionarei casos concretos por desnecessidade. São muitos e sobejamente conhecidos. O consulado Socrático esteve recheado de casos. Hoje ninguém duvidará do excepcional tratamento de que Sócrates beneficiou nos arquivamentos, na destruição das escutas, etc. Ficamos banzados quando ainda agora ouvimos o Senhor ex-PGR Pinto Monteiro dizer com a certeza de quem fala infalivelmente ex-catedra: o caso Freeport foi inventado. As escutas não revelavam qualquer crime. Que sumidade será esta tão conhecedora e tão infalível? Como foi possível que Portugal e a justiça tenha chegado ao estado deplorável em que se encontram quando houve gente tão sabedora e tão inteligente em lugares de tamanha responsabilidade?
Somos um dos países onde a desigualdade é gritante e obscena. Todos sabem que sem classe média não há nem pode haver desenvolvimento. Pode haver crescimento: inconsequente e sobretudo insustentável a médio prazo. Mas não haverá desenvolvimento. Nem económico, nem social. A classe média foi destruída. E continua a sê-lo. A austeridade contribuíu muito para isso. Mas já vinha de trás. Há quase uma década que nos afastamos dos parceiros europeus. Bem antes da austeridade. Não a defendemos, note-se. Entendemos, que se não criarmos riqueza, jamais pagaremos a dívida. Entendemos que a dimensão da dívida impede o desenvolvimento. Não há recursos para investimento. Ponto. Isto é uma evidência que a rapaziada, agora no poder, teima em não compreender. Ou finge não compreender.
Tal como o patriarca Soares e seus muchachos teimam em não entender que, na origem da degradação da nossa vida pública, estão a corrupção, o nepotismo, o tráfico de influências e toda a mediocridade que os partidos políticos facilitaram, fomentaram, projectaram, protegeram e continuam a proteger. Acreditar neste país é hoje um acto de muita fé. Nos partidos que nos têm governado, um masoquismo dificilmente compreensível. 

terça-feira, 25 de novembro de 2014

O País dos Segredinhos

O País dos segredos é verdadeiramente extraordinário. Detido o ex-PM Sócrates, levantaram-se as vozes do costume bradando contra a violação do segredo de Justiça, porque uma televisão estaria no aeroporto aparentemente conhecedora do que viria a acontecer. Durante anos e anos, este foi o único delito cometido em Portugal: a violação do segredo de Justiça. Gritam por transparência, mas estão como peixes na água com a opacidade que fomentaram e protegeram. Depois da prisão preventiva de Sócrates, decidida ontem à noite, não houve palermice nem imbecilidade que não tivesse sido vociferada aos sete ventos.Nas televisões, nas redes sociais, enfim, aos sete ventos. Que fique claro. Não apoio nem condeno a medida decidida pelo Juiz de Instrução. Como jurista, entendo que a prisão preventiva é uma medida excepcional que só deve ser aplicada nos casos taxativamente previstos na lei. Entendo que a presunção de inocência é uma conquista essencial a qualquer Estado de Direito. Desconheço a qualidade e quantidade de indícios que o Senhor Juíz teve de analisar e ponderar. Logo, não tenho elementos para "julgar" se a medida se justifica ou não. Mas isto sei. Não houve qualquer violação do segredo de Justiça. Houve aparato. Mas esse aparato era inevitável estando em causa um ex- primeiro ministro contra o qual correram suspeitas várias durante todo o seu consulado. Não houve violação do segredo de justiça, pela simples razão de que hoje, a regra é os processos penais serem públicos. Como sempre deveriam ter sido. O segredo de justiça vem regulado no artº 86º do Código de Processo Penal. Só a requerimento do arguido - de qualquer dos arguidos neste caso - e depois de ouvir o Ministério Público, o Juiz pode determinar que o inquérito esteja sujeito a segredo de justiça e caso entenda que a publicidade do processo prejudica os direitos dos sujeitos ou participantes processuais. Como quando chegou ao aeroporto, Sócrates ainda não era arguido, não poderia, evidentemente ter requerido segredo de justiça. Desconheço se os outros indiciados o tinham já requerido. Mas verdadeiramente extraordinário é o facto de aqueles que, por ignorância ou má fé estão sempre a bradar contra a violação do segredo de justiça, exijam de imediato que o Juiz de Instrução torne públicos os fundamentos da prisão preventiva. Peremptoriamente. " Os socialistas querem saber". Espantoso, Extraordinário. Os fundamentos constam do despacho entregue aos arguidos e aos defensores. Até para poderem recorrer. Não são publicitados num comunicado de imprensa. Como qualquer pessoa de bom senso entenderá. Continuamos, agora e sempre, com o mesmo estigma grosseiro: as pseudo-élites, medíocres e que vêm ordenhando as tetas do Estado, insindicavelmente, continuam a agir como se todos nós fossemos os pacóvios com o dever de lhes custear as prebendas. Pouco se poderá dizer do patriarca senil Mário Soares. Coitado. O seu tom é de ameaça. Mas desculpa-se pela idade. O ex-PGR Pinto Monteiro quer fazer-nos crer que um almoço pouco oportuno com Sócrates teve como tema inocente as viagens do mesmo Sócrates e a oferta de um livro. O almoço inocente terá sido escutado. Que dianho! Mande destruir as escutas, Senhor. Lá prática tem Vocência, Caso tenha dúvidas, peça ajuda ao também ex-presidente do STJ Dr. Noronha do Nascimento. Porque não?  Fazem um duo tão eficaz e tão persuasivo, caramba!

quarta-feira, 19 de novembro de 2014

Soberania a retalho

Os vistos golden foram a última novela. Investigação rápida, ao que parece, com detenções que já vão sendo usuais- menos espampanantes, felizmente - e medidas de coacção pouco comuns para o estatuto de alguns envolvidos. Como diz o povo, cada cavadela sua minhoca. Nisto se transformou o país, alegremente batendo palmas a um arremedo de democracia que já nos levou ao limiar da sustentabilidade. Não há nada a fazer! Isto não tem solução! É o que se ouve de um povo resignado que sente nada ter a ver com este regime. Há excepções, evidentemente: todos os acólitos do PCP, BE, Quejandos e Cª porque fascismo nunca mais, pois claro. Bom, mas não quero maçar-me e maçar quem eventualmente me leia com os vistos nem mesmo com a novela bem mais elaborada do BES, GES, reguladores, comissões de inquérito, recusas de documentos, enfim, todo este jogo da "macaca" que nos esgota. Vou abordar, ligado a tudo isto, um fenómeno sociológico que me entristece profundamente e que se repete, em Portugal, impunemente. Sim. Impunemente, por muito que isto desagrade à Senhora Ministra da Justiça. Refiro-me ao desrespeito ou mesmo gozo que todos estes catraios demonstram para connosco. A forma como nos tratam. Já anteriormente mencionei isto a propósito do Dr. Marques Mendes que a com referência a um caso de evasão fiscal de uma sociedade anónima, teve a lata de se defender dizendo: eu nem era accionista. Só fui administrador. Sendo o Senhor Jurista questionei-o aqui: o Senhor tinha obrigação de saber que quem governa as sociedades é o órgão de administração, isto é, são os administradores ou os gerentes. E são eles que assumem as responsabilidades perante terceiros e perante as autoridades de qualquer país. Numa palavra: a desculpa era esfarrapada e jogava descaradamente com o eventual desconhecimento jurídico de quem ouvia o Senhor na TV. Pois bem. Parece que agora é uma outra sociedade de que o Senhor é sócio que estará envolvido na novela dos vistos. No Sábado, ouvi o mesmo Senhor debitar de Moçambique, para a SIC, representada pela Maria João Ruela, esta outra barbaridade: eu sou sócio, mas nunca fui gerente. Julguei que a sociedade estava extinta. Afinal formalmente não está. Eu não sou convocado para assembleias gerais desde 2011... Bom, por muito que me custe, terei de dizer a quem possa ler este escrito que é muito perigoso utilizar o (des)conhecimento jurídico deste marmanjo. Ao contrário do que dissera sobre a evasão fiscal, agora o importante é ser gerente e não sócio. Anteriormente era ser sócio e não administrador. O que é correcto para efeitos de responsabilidade pelos actos sociais. Responsáveis são, em regra, os gerentes ou administradores. Desconhecer que uma sociedade só se extingue depois de os sócios terem votado a correspondente liquidação e deliberarem sobre a nomeação de liquidatários; desconhecer que só depois de uma acta que aprova as contas de liquidação é que uma sociedade pode extinguir-se com o registo, é próprio de um ignorante. Como eu e ninguém  acredita que a ignorância deste político comentador chegue tão longe, só podemos supor que o Senhor goza à farta com todos nós. Senhor Dr. Marques Mendes: se foi desrespeitado nos seus direitos de sócio, porque não impugnou as deliberações sociais? Aprovou ou não as contas dos exercícios? Como é que alguém, responsável, deixa passar em claro actos legalmente indispensáveis na vida de qualquer sociedade comercial da qual é sócio? A personalidade das pessoas colectivas, Senhor comentador, é concedida pelos sistemas jurídicos para a prossecução de finalidades sociais pressupondo o respeito pela lei e pelas formalidades que a lei reputa como essenciais. Se assim não for, podemos estar perante a utilização abusiva da pessoa colectiva. Não sabe disto? Se sabe, e tem de saber, com que lata consegue dizer - de Moçambique - tudo aquilo que disse e coma "convicção" que fez questão de sublinhar?
Para terminar, porque tudo isto é triste, tudo isto é fado. A ideia que todos estes senhores têm e transmitem de que nos consideram simples néscios é revoltante. Não é apenas o Senhor Marques. É a grande maioria dos Senhores que constituem " a élite" de uma sociedade que, em bom rigor, é tratada abaixo de cão.
Os golden visa não são expediente único de Portugal. Mas também é verdade que a ex-comissária para a Justiça da UE disse, a propósito de medida semelhante aprovada em Malta que a soberania não se vende. Enganou-se. Talvez por isso não tenha sido reconduzida. É uma mulher inteligente. Enganou-se. Por muito útil que isso seja para a venda de imóveis ( e pouco mais até agora), a verdade é que a concessão de vistos a quem "invista"  €500.000,00 numa casa é uma venda da soberania a retalho. E quem diz casa. diz as restantes"medidas de investimento previstas nessa legislação que, a médio prazo, dará sempre lugar a questões jurídicas delicadas que o legislador cego e em estado de necessidade não previu, não quis prever, não teve e não tem capacidade para prever. Como diria Viviane Reding, os vistos dourados são a venda da soberania a retalho.

sexta-feira, 7 de novembro de 2014

Abaixo de cão

Venho a este espaço cada vez menos. E cada vez mais constrangido. A sociedade portuguesa bateu no fundo. Os dirigentes nacionais que deveriam ser exemplos de decência e de dignidade, assumem comportamentos que envergonham todos quantos ainda têm alguma noção desses conceitos elementares à própria convivência de seres humanos. O espectáculo que o Senhor Ministro da Economia deu ontem na Assembleia da República é simplesmente abjecto. Mesmo assim, o Senhor estava tão seguro de si, tão à-vontade que comprovou esta verdade insofismável: os imbecis estão cheios de certezas e os inteligentes cheios de dúvidas. Tão certa era a sua "certeza" que perante o espectáculo infame que acabara de proporcionar, ainda estranhou a excitação e o nervosismo de uma bancada da oposição. Depois do que vi, uma coisa apenas me ocorre, como julgo que sucederá com muita outra gente: o Senhor ministro não poderia estar no seu perfeito juízo. A verdade é que todos os dias nos são proporcionados "espectáculos" de gente que seguramente não pode estar no seu perfeito juízo. A sociedade portuguesa, cansada de aturar tudo isto, não pode estar no seu perfeito juízo. Alguém tem de pôr cobro a este descalabro. Agora são aos montões as "desculpas" e "incriminações"de gente importantíssima a respeito do BES e do GES e correspondentes empresas. Ontem, um Senhor dizia que o Senhor Salgado tinha enganado o país inteiro. As tropelias salgadas ou insonsas foram tantas e durante tanto tempo que só foi enganado quem quis ou quem teve interesse em mamar da teta onde os Espíritos mais ou menos Santos mamaram durante décadas. E não são os únicos. Os recursos nacionais foram abocanhados por gangsters. Da política aos negócios, aos diferentes centros e até periferias com  algum poder. As duas últimas notícias espalhadas até à náusea incomodaram seriamente as virgens nacionais. A mediocridade dos jornais e jornalistas deliciou-se com a divulgação de um eventual lapso da Senhora Merkel que, segundo os Jornais, teria dito que Portugal e Espanha teriam licenciados a mais. Não ouvi a Senhora Merkel e ainda que tentasse descobrir o que a criatura quis realmente dizer, o meu alemão do velho 3º ciclo liceal não me permitiria deslindar as eventuais subtilezas da língua alemã. Desconfiava e desconfio, naturalmente, do rigor dessa notícia. De resto, ontem já um jornal retransmitia a novidade de forma algo diferente. Parece que a "tirada" se aproximaria disto: a Espanha e Portugal têm muitos licenciados e isso de pouco lhes vale, porque permitiram a desvalorização do ensino vocacional. Repito. Não sei se foi isto que a Chanceler disse ou quis dizer. Mas acredito mais nesta versão do que na primeira. E se assim for, só podemos dizer que a Senhora tem razão. Todos sabemos que é verdade. Não temos licenciados a mais, como é evidente. Mas temos profissionais qualificados e competentes a menos, como electricistas, canalizadores, carpinteiros, soldadores etc.etc.Alguém duvida disto? É só ver. Os melhores profissionais que se encontram no mercado de trabalho são brasileiros, da Europa de leste e por aí fora. Imigrantes. Portugueses são uma raridade. E sem estes profissionais, jamais teremos índices de produtividade que permitam tirar o país da bancarrota em que se encontra. Porque ainda se encontra em bancarrota, por muita demagogia que "os eleitos" usem para provar o contrário. Os credores e não só já o disseram com alguma subtileza. Há meses tinham toda a razão. Agora, não sabem o que dizem, porque os génios nacionais estão muito mais ao par dos acontecimentos. Estamos na bancarrota. Dela não sairemos enquanto a produção se mantiver estagnada ou quase, tivermos de pagar os juros incomportáveis dos empréstimos que pedimos, e o Estado se assumir apenas como um chupista colector de impostos e produtor de burocracia e de sistemáticos abusos de poder, manifestos ou acobertados.
Uma última questão, particularmente melindrosa, entre as muitas que pululam e poluem o magro e mal oxigenado espaço da nossa vida social. O Governo de Timor Leste, através de uma "ordem"- resolução?- parlamentar, terá ordenado a expulsão de magistrados portugueses que aí permaneciam ao abrigo de um acordo de  cooperação. São equívocos os factos, os meios, as razões, os motivos e tudo o mais. Mas a corporação ou corporações, melhor informadas do que eu, naturalmente, cerraram fileiras. E a Ministra sentiu-se e, solidária, falou até do princípio sagrado da separação de poderes. Das várias coisas que li, há algumas que cheiram a orquestração e outras a parvoíces puras e simples. Razão essencial para o comportamento do governo timorense: os juízes portugueses estariam a investigar ilícitos dos ministros timorenses. (I)- Só os portugueses foram expulsos? Parece que não. Terão sido umas dezenas de "cooperantes". Este facto é dito apenas em surdina. (II)- Todos os magistrados investigavam ilícitos? Que estranho! Em Portugal, os juízes não investigam. Só os juízes de instrução farão alguma investigação. Infelizmente, mesmo os magistrados do Ministério Público ( detentor da direcção dos inquéritos criminais) investigam muito pouco. E nem gostam. Delegam os actos de investigação e até as meras audições nas polícias. Porque diabo haveria de investigar um juiz desembargador? Parece que um, pelo menos, haveria. A ex-ministra da Justiça estava presa por participação económica em negócio. Que interessante! Em portugal, não há ministros presos e o crime também existe no nosso Código. Afinal, razão tinha a Cândida Almeida, Senhora Procuradora, quero dizer. Em Portugal não há corrupção, como todos sabem. Ou então, os juízes portugueses são como os restantes emigrantes: excelentes quando trabalham no estrangeiro. Negligentes e medíocres quando trabalham em Portugal. Finalmente, não posso deixar de citar o único jornalista que, em forma de diálogo, pôs o dedo na ferida. Fernandes Ferreira, de seu nome. Os cooperantes não podem integrar um órgão de soberania de um outro país, como são os Tribunais. Onde está a separação de poderes, Senhora Ministra? Então os estrangeiros, cooperantes ou pouco, podem ocupar lugares em que julgam os "cooperados" sem que possa haver qualquer "censura" por parte dos restantes poderes, porque há e deve haver separação de poderes? Mas isso seria o descalabro. Logo, se houve ou há juízes portugueses ocupando lugares de um órgão de soberania em Timor Leste, isto diz bem da bacoquice de quem celebrou tal acordo, desde logo, e também da bacoquice dos magistrados que aceitaram participar nessa farsa absurda e hilariante.
Mas enfim, tudo isto não passa de um exercício de estilo. Se bem "ajuizarmos" Portugal está muito bem, cheio de saúde e recomenda-se. Quando joga de novo a selecção nacional? E o Benfica? Ai Jesus, não nos deixes ficar mal. Ora essa!

sábado, 25 de outubro de 2014

Multas de(mérito)

 Parece que no comando distrital de Évora da GNR há objectivos a cumprir, no que a multas diz respeito. Provavelmente não será apenas em Évora. Mas aqui, de acordo com as notícias, é reconhecido publicamente o mérito dos maiores autuantes e o demérito dos menores autuantes.  Neste caso e porque não há normas imperfeitas eficazes, parece que a punição consistirá, entre outras medidas, em patrulhamentos a pé, de forma a obrigar a percorrer distâncias consideráveis. Francamente! Caminhar faz bem. Gente, ou melhor agente saudável ou que  queira sê-lo, deveria exercitar com agrado uma atitude abstencionista. Et pour cause. Com o risco de desagradar aos comandantes, claro está. Não posso considerar-me muito viajado. Alguma coisa conheço, na Europa, designadamente. E não conheço País nenhum onde os Senhores agentes exercitem tanto esta maravilhosa faculdade. Talvez seja o exercício de autoridade que mais gozo lhes dá. No faz de conta da guerra colonial, as operações militares eram planeadas "mensalmente" nos comandos. Ou era de lá que vinha a última palavra.  Logo, muitos dias de mato era um indício seguro de firmeza e autoridade. Pela nossa parte, saíamos do "quartel" uns quatro ou cinco quilómetros e acampávamos uns dias para consumirmos a ração de combate. E assim se acomodavam todos os interesses. Já repararam como há múltiplas semelhanças? Há tanta coisa para patrulhar! Parece, todavia, que os automobilistas são o alvo mais fácil e com quem melhor se exercita a autoridade e o seu sistemático abuso. Pobre País, onde as polícias se queixam diariamente de falta de meios humanos e materiais. Uma pequena história, ao jeito anglo-saxónico. Como os senhores agentes "adoram" conversa e desculpas -de quê?- que rebaixem o condutor e lhes exacerbe o amor próprio e a vaidade, assumo a atitude de nada dizer. Há uns anos, numa certa manhã radiosa e fresca de Outono, ía eu a caminho do tribunal do Montijo, fui mandado parar à saída do túnel de Montemor, na CREL, por um agente cujo automóvel circulava à minha frente, no dito túnel. Só acendera as luzes já dentro do túnel uns cinquenta metros. As perguntas do costume e mais algumas, entre elas:- Para onde vai? Não resisti: -O que é que o Senhor tem a ver com isso? Multa certa, obviamente. Como o companheiro seria mais novo, a ele coube preencher a papelada dentro do automóvel pago por todos nós, enquanto eu aguardava no automóvel pago por mim e o agente principal aguardou especado à saída do túnel por onde passaram centenas de veículos, 80% dos quais sem luzes acesas. Atendendo ao reconhecido domínio da escrita deste e doutros senhores agentes, a espera foi longa. O facto, finalmente. No auto constava que eu circulava sem luzes no túnel. Quis corrigir:- escreva, por favor, que só acendi as luzes já dentro do túnel. - É a mesma coisa! - Não lhe compete julgar, mas sim relatar os factos em concreto. Recusa esperada. Com pouco mérito, mas esperada. Pedi-lhe para chamar o companheiro o qual, aliás, teria sempre que comprovar a minha recusa em assinar. Quando chegou perguntei-lhe quantos automóveis tinham atravessado o túnel sem luzes. -Muitos? -Mas não mandou parar nenhum? - É muito perigoso, neste lugar. - Mas foi aqui que me mandou parar. - É diferente.
E pronto. Assim fui multado com todo o mérito. Bolas. Qual será a dúvida. Eles precisam de constar dos quadros de honra ou melhor de mérito. Alguém tem de se destacar numa sociedade cujas instituições mergulharam na lama. Irreversivelmente?


terça-feira, 21 de outubro de 2014

Bento(s), cheias e cowboyada

1. Bento(s) Parece que o Senhor Bento - lembram-se?- esse mesmo, o Vitor, o Mr. SIBS, primeira personagem do BES bom ou Novo banco, enfim, todas essas garraiadas que os resignados tugas aguentam pateticamente todos os dias; parece que o senhor Bento das proezas, activou mais uma: cumulou o tacho no BdP com a admistração da SIBS, que é uma associação dos bancos, com lucros fabulosos ( cobra aos comerciantes e aos consumidores), onde esteve durante 15 anos e recentemente com a administração do tal bes bom ou novo banco ou lá o que queiram chamar-lhe os génios patéticos deste sítio onde tudo o que é caca é possível. Claro, Senhor Bento. Em terra de cegos, são tão poucos os génios visuais que não têm outro remédio senão cumular estes cargos exercidos sempre com muito altruísmo e espírito de resignação. Com grande sentido de Estado, como soe dizer-se. Esquecia eu de mencionar no seu perfil, o ar up to date que o crânio calvo e farto de interiores bem demonstra e mais: sim, mais: o Senhor Bento-não esqueçamos- foi também Conselheiro de Estado nomeado por sua Exª o Senhor Presidente da República. E se mais mundos houvera lá chegara!

2. Inundações
Com grande pragmatismo e após estudos dispendiosos e apuradíssimos, o Senhor Costa, edil dos edis Lisbonenses ( Presidente da Câmara, em suma) e futuro primeiro ministro, tão desejado como Sebastião - e sem qualquer névoa - veio tranquilizar-nos após mais uma chuvada e concomitantes inundações na Capital. Sim, sim. Veio tranquilizar-nos, como se treinador da selecção fosse ou aspirasse a ser. Não há nada a fazer, cidadãos lisboetas e do portugal dos pequeninos. Lisboa é assim: já tem sol, cheira a luá, cheira a lisboa. E houve, inacreditável, houve quem abrisse a boca de espanto. Entrou mosca seguramente. Alguém conheceu alguma vez uma ideia ao edil? Lanço o desafio. E alargo o âmbito temporal e espacial. Digam-me. Mencionem uma ideia que o Senhor Costa tenha exposto, como insigne dirigente partidário, como ministro, como cidadão. É verdade. A nossa memória prega-nos partidas. O Senhor Costa já foi ministro da administração interna, também dito das polícias e da justiça, que raio. O homem foi ministro da justiça. Nunca o vi nos tribunais. O que é normal. Os tribunais são para a pequenada. Ora o Senhor Costa fez o estágio no escritório do Dr. Jorge Sampaio ( haja respeito) e do Dr. Castro Caldas, entre outras sumidades. Ou seja: fez o estágio ( de quê ?) no escritório dos ministros. De tudo. Só poderia ter sido ministro, obviamente. Naquele escritório estagia-se para ministro. Desde que filiado, obviamente. 

3. Os novos cowboys 
Veio agora, pé ante pé, pela mão do OE: orçamento de Estado, para quem é dismnésico. Já foi OGE ( orçamento Geral do mesmo). Sacaram-lhe o Geral e com razão. Que sentido faz ser Geral quando os cucos desorçamentaram tudo quanto quiseram para disfarçar os deficits? Ainda dizem que há falta de verticalidade e de lisura! Más línguas.
Bom. Vamos ao assunto. ao que parece, este OE terá de alterar o Código Penal. Pois é. O OE deixou de ser Geral há anos, mas agora vai mexer no que deveria ser o resguardo ético da comunidade para conferir poderes de autoridade à rapaziada que trabalha nos impostos. Parece que os bandidos e mal-intencionados contribuintes têm vindo a insultar e até a agredir os cobradores de impostos. Não é aceitável. Esses "zelozos zelotas" que esmifram os pobres para encher o papo de todos os cucos, sejam políticos, banqueiros, bentos e amigos consolidados, vão ter poderes de autoridade. Que ninguém ( dos pobres contribuintes) se atreva a não acatar ordens, sugestões, conselhos, imbecilidades e quejandos desses senhores. Haverá crime, digo eu. Digo, porque disse ou dirá o OE. Crime, disseram eles. Todos eles. Ministros e deputados. Crime, disseram. Resplandecentes anedotas que poluem de patético tudo aquilo em que tocam. Este Estado é já uma obscenidade fiscal. Quanto à matéria substantiva ou impositiva, como no que à tramitação diz respeito. Só os imbecis não entendem que o conflito essencial deste sec. XXI é a asfixia do indivíduo pela organização, maxime a do Estado. Qualquer pessoa lúcida e bem formada entende que neste conflito desigual, temos de preservar os direitos individuais, Temos de defender o indivíduo. A rapaziada entendeu que deve dar poderes de autoridade aos impolutos e competentíssimos funcionários que têm por nobilíssima função cobrar impostos. Com as tropelias que todos sabemos. E que são sempre atribuídas aos automatismos do sistema informático. Ninguém ignora a corrupção que por lá foi e por lá vai. Até porque alguns casos foram públicos. Poucos. Muito poucos. Por que o segredo é a alma do negócio.
Mas agora, ah! agora vão ditar sentenças e dar ordens. Como Luky Lukes armados pelos passos para defesa dos xerifes de Nottingham. Ai do Robin Hood que se atreva a contrariá-los. Como se chamava o filme? Merda. Será que não é possível exterminar esta rapaziada? Então dêem-lhes bonbons, porra, para ver se se aquietam de uma vez para sempre.

domingo, 7 de setembro de 2014

Elogio da mudez

Entrar mudo e sair calado. E ganhar €2.400,00 (?) por "sessão! Que excelente profissão, caramba. Quando é a profissão deste arguto  e esforçado advogado em cúmulo com muitas outras senhas de presença e algumas de ausência e com o escritório de uma das maiores sociedades de advogados ( Uria-Menéndez- Proença de Carvalho) e ainda com o Conselho geral da própria Ordem dos Advogados, caramba, caramba, caramba. Nem um calceteiro  conseguiria dar conta de tanta calçada, sabendo tanto de bancos como o Senhor Dr. Nuno Godinho de Matos. Minto. O sócio Proença de Carvalho parece ter presenças ou ausência em bem mais de 20 conselhos de administração. Repito o que há tempos foi investigado. Razão tem o José Manuel Fernandes! Ele também quer. Claro que sim. Eu também quero ser advogado de senhas de presença. Mas a indignidade chegou a extremos pornográficos e patéticos. Não vê, não viu e não quer ver. Não falou, não fala e não falará. Só agora bocejou porque o regulador viu - logo é culpado por ter visto - e bloqueou-lhe a conta -. Vejam bem. Que tragédia. Não se preocupe, homem. Isso é de pouca monta. As coisas arranjar-se-ão, como sempre. O Dr. Salgado tinha sede de poder? Nada de mal nisso. Pois não. Em bom rigor, ele só dava as senhas com papas. Todos os outros, de esquerda e de direita, mas sempre tortos - de coluna vertebral -que dele recebiam e receberam as prebendas, esses são bem mais indignos, obviamente. E são às dezenas, às centenas. Durante décadas. Percebem agora a moralidade desta democracia? A moralidade da gente que está por trás disto tudo? O atoleiro começou com o transporte de malas de dinheiro para o PS. Começou com gente desta que assim se apoderou de um País. Que está mal. Muito mal. E a sociedade que deveria suportá-lo, está tão mal ou pior, porque nem valores elementares já reconhece.
O País está mal. Muito mal. Pior do que os demagogos vão tentando impingir publicamente. Mas esta gentalha, sem honra nem dignidade, ah!, esta gentalha está bem. Assim sendo, teremos de louvar a mudez. Pois claro. Lá no fundo o país está mudo. E cego. Se não estivesse mudo e cego já tinha corrido com tanta indignidade. Não se resignava à mudez com que há décadas permite a destruição, por oportunistas, das suas estruturas sociais.
Que Mr. Magoo me desculpe por ter usado a sua imagem - abusiva e imerecidamente - para sintetizar a atitude da canalha.

domingo, 24 de agosto de 2014

Que beleza!

Dou comigo a ler este título espantosamente lúcido, no jornal : Julguei que Ricardo Salgado fosse um banqueiro acima de qualquer suspeita. Desiludiu-me. Não sei nem estou preocupado com a exactidão da frase. Ela é atribuída pelo jornalista ao Senhor Dr. Miguel Beleza, ex-governador do Banco de Portugal. Lembram-se? O mesmo que, há anos, apreciando o comportamento do Dr. Vitor Constâncio no caso BPN, disse isto: "Vitor Constâncio fez aquilo que deveria ser feito". Agora, e uma vez mais, dá largos elogios a quem dirige o supervisor, regulador, tudo o que se queira. Ou seja, o Senhor Dr. é cego, ou julga que todos nós somos cegos. Ou então, o seu espírito de adulação é tal, que está firmemente convencido da genialidade de todos quantos ocuparam e ocupam o bendito lugar de banqueiro, de supervisor de banqueiros, etc. etc.
Terá havido, nos últimos anos, algum grande escândalo financeiro, algum caso tresandando a ilegalidade financeira de milhões, onde o BES ou alguma sociedade do Grupo não estivessem envolvidos? Tudo o que veio a lume - e não é tudo, obviamente - tem a marca do BES e do Senhor Dr. Salgado, de quem Beleza é amigo, claro está.
Usaremos a síntese do jornalista João Miguel Diogo num artigo da Visão intitulado Como o SIS podia ter ajudado o BES:
"(...)  Façamos agora uma breve cronologia do caso BES. Agosto de 2005. O "Mensalão", um escândalo de corrupção que abalou o Brasil na primeira década deste século, traz o nome do BES na primeira página - como escreveu o DN "as investigações envolvem a PT no Brasil e o BES, para cujas contas se teriam transferido 600 milhões de dólares. Desse saco sairiam as avenças periódicas pagas para comprar o apoio ao partido de Lula da Silva no poder".
E há o caso "Portucale" com o abate ilegal de sobreiros; as contas no BES do ditador Chileno Pinochet; a Operação "Furacão", o edifício dos CTT em Coimbra, o BESI, o BES Angola, o Submarinos, a Escom, a "comissão" dada pelo construtor José Guilherme a Ricardo Salgado por "consultadoria" prestada em Angola pela qual o anterior senhor do BES pagou, apenas quando confrontado, mais de oito milhões de impostos; a inenarrável narrativa do empréstimo de 850 milhões da PT que custou a reputação da empresa de telecomunicações portuguesa junto da brasileira Oi. E há, claro, os financiamentos do BES na comunicação social, feitos à Ongoing (Diário Económico) e Controlinveste (DN, JN e TSF), que desde sempre se falou que seriam muito difíceis de rentabilizar. Mas talvez tenha sido o poder sobre a comunicação social que fez com que, em 2012, e ainda em Junho deste ano, a um mês da derrocada, o banco liderado por Ricardo Salgado tenha sido o único dos três maiores bancos privados portugueses a aumentar capital durante o reinado da troika recorrendo apenas aos acionistas e ao mercado de capitais, sem ter recorrido ao dinheiro dos contribuintes. Muitos sinais? Demasiados.(...)"
Temos assim e sem mais considerandos porque estes trampolineiros não merecem que percamos muito tempo: ou o Senhor é cego, ou anda nas núvens, ou não vive em Portugal, ou é um bluff e não vê um boi de economia e menos ainda de ética.
Não há pachorra. Este círculo de oportunistas são como putas e clientes defendendo-se e elogiando-se uns aos outros. A imagem é de João Pereira Coutinho a propósito dos jornalistas dos vários canais de televisão que passavam e passam a vida a entrevistarem-se para promoverem reciprocamente os respectivos programas. Mas nestes figurões encartados  da Banca parece que a imagem é ainda mais apropriada. Na verdade, na verdade lhe digo Sr. Dr. Beleza. O Senhor não me desilude. Nunca me desiludirá.

segunda-feira, 18 de agosto de 2014

A Banhos

A BANHOS *
"Uma das coisas a que temos de nos habituar enquanto cidadãos portugueses, é a assistir impotentes à utilização abusiva do espaço público por algumas entidades. Se os sucessivos cortes de vias públicas sem aviso prévio causam tantos transtornos aos que desejam circular livremente na cidade de Lisboa, imaginem só o que a praia artificial mais badalada do país fará aos moradores da freguesia de Santo António, em Lisboa.
No outrora desconhecido do grande público Jardim do Torel, o lago setecentista transformado em mar era até há bem pouco tempo um lago artificial cheio de verdete no meio de um terreiro inóspito, num piso urbano entre escadas, subidas, descidas e rampas, massacrado pelo sol que ali incide durante os longos dias de Verão. O miradouro  do jardim também não tinha nenhum bar da moda com DJs, muito menos rating no foursquare. O respeito não não oficial era tal que até a TimeOut se abstinha de o incluir em muitas das suas listagens de sítios cool e in e hip. Era apenas um lago num jardim entre escadas, subidas, descidas e rampas. Tal como todas as pérolas, o Jardim do Torel era um daqueles lugares portugueses absolutamente incríveis, mais ou menos sagrados e impossíveis de descobrir. 
Até que alguém se lembrou que aquilo de que Lisboa precisava mesmo em Agosto era de mais uma praia urbana, para juntar à da Ribeira das Naus. 
No caso de Lisboa, uma cidade à beira mar plantada, a necessidade real de uma praia dentro do perímetro urbano é quase nula, uma vez que a rede de transportes públicos da qual nos queixamos todo o ano até é capaz de levar o cidadão comum até uma praia com alguma rapidez e eficácia em qualquer altura do ano. Caso os transportes públicos não façam as delícias dos banhistas, existem sempre os carros próprios e os carros dos amigos, mais as motas próprias e as motas dos amigos. Para quem vive em Lisboa e até mesmo na sua área metropolitana, chegar a uma praia de verdade, é canja. 
No início pensei que fosse uma brincadeira de gosto duvidoso, esta da praia do Torel. Depois pensei que fosse uma coisa bem feita e gira, género iniciativa pioneira para que se fomente a limpeza de todas as fontes e lagos da cidade, para que Lisboa seja ainda mais maravilhosa aos olhos dos turistas que passeiam esbaforidos colina acima, colina abaixo, porque se Lisboa fosse uma cidade do interior da Europa, os banhos nas fontes e os dias quentes passados nas suas relvas circundantes seriam perfeitamente naturais, dada a impossibilidade geográfica que seria chegar a uma praia. 
Agora... Em Lisboa? Precisamente em Lisboa?!?
Um par de dias após a inauguração desta maravilha, e farta de ver as placas de um cor de rosa muito familiar que indicam a praia - não vá a gente perder-se - decidi chegar a casa pelo caminho do Jardim do Torel. 
Enquanto subia as escadas de um dos acessos ao jardim, e ciente que já estava da existência da praia e da sua lotação dentro de água, mesmo com a barulheira que se fazia ouvir, pensei por momentos que me iriam surgir no horizonte vinte e cinco esplendorosas Anitas Ekbergs para vinte e cinco galantes Marcellos Mastroianis. 
Só que não: à chegada ao cimo das escadas, a visão foi outra.
A praia é como todas as praias: grátis. Tem uma capacidade máxima dentro de água de, dizem, cinquenta pessoas. Tem sempre bandeira verde e conta com a presença de um nadador salvador certificado. Também tem um bar de apoio plantado numa área outrora “morta” do jardim, bem ao estilo português, que é como quem diz um quiosque de festival de Verão disponibilizado por uma marca de bebidas.  
Contemplado todo o cenário, achei que cinquenta pessoas dentro de uma fonte em Lisboa devia ser associação perigosa e percebi que o Fellini por detrás desta banhada era outro. Sem conseguir abrandar a passada por um único segundo para contemplar toda aquela mise en scène, a lotação pareceu-me quase esgotada por um mar de gente satisfeita. Daquele mar emergia um calmeirão molhado, que de um só movimento rápido e viril se sentou no rebordo da fonte para depois projectar um escarro igualmente perene para dentro da água prometida.  
Mesmo a talho de foice, já cá em cima perto de mais um vendedor ambulante, veio-me à cabeça o “brincar aos pobrezinhos” do ano passado. Afinal de contas, se os Espírito Santo têm a Herdade da Comporta, porque é que os Millennium não podem ter o Jardim Torel?"
·         Joana Barrios
      

       Nota; o artigo transcrito é da autoria da minha filha, Joana Barrios, que mantém uma coluna na revista do semanário Sol, a Tabú. Este foi publicado na última quinta-feira. Já não é a primeira vez que lhe peço autorização para a "republicar" neste blog. Como alguns concordarão - e outros nem por isso - é um orgulho ter uma filha lúcida, que escreve bem e com humor.
      Para além disso, talvez o seu artigo me tenha tirado da preguicite, incitando-me a escrever os poltriqueiros.




Trampolineiros

1-Títulos: para o objectivo pretendido, os alentejanos usam preferencialmente a palavra pantomineiro. No Norte utiliza-se com muita frequência  trampolineiro. Pantomineiro tem para mim uma "carga" sentimental: gosto de teatro; gosto muito da pantomina, enquanto forma de expressão corporal e não só. Vi há muitos anos Marcel Marceau e apaixonei-me por todos os mimos. Ora, compreenderão que tive de procurar outro termo para designar todos aqueles cucos que arribaram em Portugal, apropriaram-se de todos os ninhos bem situados e abocanharam - abicaram - tudo o que poderia dar rendimentos fáceis, espoliando a sociedade portuguesa de forma talvez nunca vista. Mais: inventaram criaturas, ditas políticos, que criaram os poleiros apropriados à espoliação desenfreada para partilharem das sinecuras.
2- Cansaço: BPN, BPP, BP, Banif, PP's, BES, GES e tralha  afim. São tantos, tantos os casos que se torna cansativo comentá-los. Há semanas que o BES não nos larga nos jornais, televisões e rádios. Muitos anos se passarão sem que nos largue nos bolsos. É um cansaço. Há anos que neste mesmo local, este escriba diz da  miséria destes figurões, designadamente do salgado ou insonso, porque soube "adquirir" laterais proptectores de todas as cores. Esperto o Figurão. Foi outra entrada neste blogue, já com anos, se não erro. Todavia, muito mais conhecedores e profundos, o Senhor Presidente da República, o PM, o Senhor Governador do BdP, todos eles e muitos mais ( os acólitos da ainda dita comunicação social), afiançaram a todos que o BES era sólido. Até tinha uma almofada financeira de 2 mil e quinhentos milhões. - os problemas eram do GES e não do BES, pois então -. Já então o BdP cujo governador, como Marco António is an honorable man, emprestara ao sólido Bes 3 mil e quinhentos milhões, ao que parece.São tantas, tantas, que é um cansaço comentar todas estas despudoradas obscenidades.
3- Regime: todos nós, portugueses, somos um pouco esquizofrénicos. Ainda bem que o somos. Morríamos de vergonha se não reinventassemos quotidianamente a nossa realidade. Como aguentaríamos nós esta choldra? - pobre D. Carlos! Tão criticado por uma expressão adequada a tanto do que aqui acontece e aqui se sedimenta. Um regime sem solução. A melhor ditadura é aquela que se veste de democracia. Titubeio a expressão de memória, sem qualquer preocupação de acertar com as palavras. Este último caso - para já, último - vem apenas confirmar que esta democracia está podre e empesta tudo aquilo em que tocou e continuará a empestar até que o nepotismno e a corrupção sejam extirpadas da sociedade portuguesa. Far-nos-ía bem um pouco de mérito e de decência, não? Com realismo, julgo que nunca irá acontecer. Os interesses do bloco central, centrão, arco da governação, o que se quaira, estão em todo o lado. Como lapas que só ácidos muito corrosivos poderão desalojar. Mas, sejamos crentes e um pouco esquizofrénicos. Talvez, talvez. Talvez esta democracia encontre meios de regeneração. Ou talvez se crie outro partido regenerador. Vade retro satanás.

terça-feira, 22 de julho de 2014

DDT- pois claro.

Antes da borrasca, abordei muitas vezes questões relacionadas com ele e com outros "figurões" da mesma indústria financeira. Modéstia à parte, não me surpreenderam os acontecimentos. Várias entradas neste blog, já com anos, destacam particularmente os bacocos que pressupostamente todos nós temos sido e continuamos a ser nas expressões, alarves ou subtis, mas sempre decorrentes da inteligência genial dos figurões. Não me surpreendeu a borrasca, repito. Nem me surpreenderam as dezenas ou centenas de escrevinhadores que há semanas enchem o saco dos pobres leitores com a crise do GES/BES. Grande parte deles à espera de mais umas migalhas. Não desprezíveis, evidentemente. Bom, é inabilidade minha. O BES está óptimo. O GES é que está insolvente. Todos o dizem. Todos o proclamam. Pois claro. Veremos de que forma os Portugueses pagarão, uma vez mais, a conta obscena para evitar riscos sistémicos. Pudor, é uma coisa que se perdeu há muitos anos neste jardim. Parece que era e continuará a ser conhecido por DDT ( dono disto tudo). Belo nome. Com propriedade, teremos de admitir. Esta aprendi-a agora. Pudera. Nunca tive acesso a esses corredores. Quantos ex-tudo ( ministros, secretários, deputados, directores, subdirectores, porteiros, jardineiros, engraxadores e tanti quanti) não beneficiaram de favores do mencionado DDT? Já regressou do exílio há muitas décadas! Regressaram todos! Há décadas que vivem na maior promiscuidade com os detentores do poder político. Com todos. O Senhor DDT, os Jardins, os Oliveiras, etc, etc. Sejamos justos: é tudo pessoal de toque fino, vivendo de prebendas. Vivendo? Mas a sério. Engordando, luxuriando. O país é o seu pequeno, pequeníssimo quintal. E eles são os Cucos. E nós as marionetas, pois então. E eles sabem-no. E todos nós o sabemos. Para quê mais novelos retóricos se a realidade acabará por se impor inexoravelmente? Consulto a Wikipédia porque há sempre algo a aprender nos becos mais obscenos e grotescos. E aprendi. O DDT foi o pesticida mais usado até à década de 60. Chama-se -imaginem - dicloro-difenil-tricloroetano. E foi sintetizado, em 1939 por Paul Herman Muller. Alemão, provavelmente. Só poderia ser. Caíu em desgraça pelos danos ambientais denunciados por uma Senhora Rachel Carson, no livro Silent Spring. Os danos ambientais eram muito graves. Particularmente nos lençóis freáticos. Apesar de o DDT estar proibido em mais de oito dezenas de países, continua a ser utilizado eficazmente no combate a doenças como a malária. Podem crer que o nosso DDT também continuará a ser eficazmente utilizado. Pelos milhões acautelados, seguramente. Mas também porque poucos ou nenhuns sabem usar tão bem o tráfico de influências. Diz-se que até esteve no edifício do Conselho de Ministros, com este a funcionar. Que sorte e que consideração. Poderia ter mandado só uns recadinhos porque seria obedecido de igual forma. Como sempre foi. Em Portugal, a primeira preocupação de qualquer político é assegurar a retirada. Expressão bonita para dizer que, admitindo a sua não reeleição, o patrão a quem agradou ou fez favores dar-lhe-á o tacho conveniente e bem oleado. Em regra, é bem melhor oleado do que o tacho público que ocupou. Que ninguém se ria. Ou que todos se riam. O DDT empregou de tudo. Garanto que desde o CDS ao PCP e BE todos lhe devem favores. AH! Ocorreu-me agora. Até o rapaz da UGT lhe comunicou e foi por ele autorizado a dirigir essa estrutura importantíssima dos trabalhadores. Com grande gáudio e orgulho do chefe DDT, claro está. É a vida, diria a Guterres. Que agora é requisitado para a Presidência da República. Da quê? Bom. Sejamos comedidos.Esta linhas são sobre pesticidas. também conhecidos por praguicidas. E há muitas espécies. As que me dão particular gozo são conhecidas por nematicidas. De nematoides, ou seja, vermes. Pois então. Os nematicidas são os praguicidas indicados para os vermes. Um toque de história, para terminar, também agarrado da Wikipedia, claro está. Parece que há muitos milhares de anos que os pesticidas são usados pelo ser humano para preservar as suas culturas (!) Pelo menos desde 500 AC. No sec. XV terão sido usados produtos à base de arsénio e de mercúrio. E no sec. XVII, terá estado na moda o sulfato de nicotina. Também esta vai sendo proibida a cada passo, como sabemos. E os efeitos colaterais? Sabe-se pouco disso. Não há registos históricos. E os que há não são fidedignos. Exactamente o mesmo que daqui a 50 anos se dirá da crise de génios que agora emergem do saco e dos pandeiros do GES/BES. Vai uma aposta?


terça-feira, 1 de julho de 2014

Notas incertas e...requentadas

Há meses que nada escrevinhava nas marionetas. logo, houve apenas "ganho de causa". Mas tantas coisas têm acontecido que talvez valha a pena lambuzar duas ou três penadas. Foram as eleições europeias. A 25 de Maio. Caramba. Ainda me lembro. A sensação foi a eleição do Marinho Pinto, ex-bastonário da OA e de um outro candidato do MPT  ( Partido da Terra, imaginem). A segunda sensação consistiu na crise do pequeno vencedor (PS) apesar da derrota bem pronunciada da rapaziada no poder (PSD e CDS). A paulada foi tal que a rapaziada ficou abaixo dos 29%. Mas o PS, de modo não inesperado, perfilou-se para contestar o António José ( pouco) Seguro. Foi o Costa da CMLisboa quem lançou o repto. O Costa! Que se encolheu inúmeras vezes, vislumbra agora como inevitável um poleiro mais alto. Por pouco que faça. Por pouco que valha. Com grandes apoios nos fundadores do PS & Cª. É bem do PS. A insídia e o despeito está-lhes no sangue. Mas não é exclusivo. Caracteriza o país. Por muito que nos custe, esta é a verdade. O país tornou-se despeitado, medíocre, insidioso.
A Ucrânia tem estado a ferro e fogo. Pelo menos a chamada parte oriental, com destaque para a Crimeia, que votou esmagadoramente pelo "regresso" à mãe Rússia. O movimento contaminou outras regiões do Leste. Os USA e a UE que auxiliaram e rejubilaram com as manifestações e a paulada na praça de Kiev contra o anterior governo, ( que os revolucionários de direita conseguiram depor) entendem curiosamente que as outras rebeldias são ilegítimas. E auxiliam o uso da força por parte daqueles que nem eleitos foram. Rectificação: o presidente, dito Poroschenko (?) foi eleito por alguns no meio da trapaça. Nunca julguei que um dia poderia dar razão ao Putin, cujo nome me parece adequado à personagem. Mas este enredo da Ucrânia revela como o Ocidente está a ser governado por patetas, sem visão, sem estofo e sem valores. Os auxílios que o mesmo Ocidente prestou aos rebeldes Sírios, já serviram para criar um Califado que envolve parte da Síria e do Iraque. Toma. É o ISIS. Parece que controlo já a maioria das cidades iraquianas.
Vamos à bola. Não vamos porque o campeonato do mundo é no Brasil. Longe p'ra burro. Sendo que os rapazes milionários que deveriam ter representado o país já regressaram. Saíram aos primeiros rounds: com uma vitória suada sobre o Gana, um empate em cima da hora com os USA e uma derrota estrondosa com a Alemanha. Mas o Bento, que disso tem pouco, de nada se arrepende. Não fosse ele já Bento. E não se demite. Pudera. Onde ganharia como na FPF? Com as condições que, seguramente, lhe são aí garantidas? Ninguém se demite nesta terra. São brandos os nossos costumes. Um pouco mais do que brandos. Têm já o sinete  da resignação que a todos tolhe.
Agora é o BES e respectivo grupo. Escrevo no dia em que foram suspensas pela CMVM quaisquer operações ( compras e vendas) sobre os títulos da holding familiar e do próprio banco. Já o disse há muito tempo neste blog. Há muitos anos que não se conhece um negócio sujo, em Portugal e não só, uma negociata choruda que envolva trafico de influências ou corrupção, onde o BES ou uma empresa a ele ligada não esteja envolvida. O Senhor Salgado sempre que dizia e que diz algo para português ouvir nem se coibia nem coibe de nos tratar como imbecis. Que somos. Imagine-se que acabo de ler o seguinte: o PCP pede uma intervenção no BES, ainda que seja a nacionalização. Fico estupefacto. Depois de tudo isto, o PCP ainda quer dar dinheiro aos accionistas do BES. Arre porra que não aprendem. Melhor. Se calhar até aprendem bem. É assim que eles querem. Atrás do BPN, do BPP, do BANIF, etc. etc. só faltava vir o BES e pedir-se ao Zé que pague, uma vez mais. E lá vamos, cantando e rindo. Os bajuladores do costume, altamente maioritários entre nós, já escreveram milhares de páginas em todos os pasquins sobre a zanga dos primos Ricciardi e Salgado. E com "zangas" nos ficamos! Espero bem que não sejamos tão patetas que consigamos dar-lhes "lucro" com as zangas. Que não obtenham lucro com mais uma zanga. Por favor.

sexta-feira, 7 de março de 2014

O bom, o mau e o vilão ( -quase-)




No permanente faz de conta em que o país se transformou, os senhores agentes das forças policiais decidiram manifestar-se. Não é a primeira vez, como sabemos. E também sabemos que não há duas sem três. Estão indignados, os senhores guardas, agentes, tanti quanti. Longe de mim criticar esta indignação. Mas têm voz! E os pobres dos cidadãos que deveriam estar indignados e não têm voz? E aqueles que levam cacetadas destes manifestantes quando querem, por sua vez, manifestar a sua indignação? À porta do Parlamento ou em qualquer outro lado menos nobre. Todos os outros cidadãos portugueses  que não são o poder, como podia ler-se nos cartazes e ouvir-se nas palavras de ordem, terão direito à indignação e a manifestar-se? Serão os cordões policiais tão tolerantes e amistosos como foram com os seus camaradas de armas? Sim, sim, porque houve cenas bonitas e ternurentas entre manifestantes e defensores da legalidade Desta feita, não houve falta de meios humanos e materiais. Como sempre há. ou se ouve dizer que há. Desta vez houve apenas a indignação de quem é o poder contra quem ocupa o poder. Com esbulho violento seguramente. Enfim, será sempre um poder usurpado. Há anos que ninguém neles vota, após as eleições, como todos sabemos. Depois dos votos contados. Bonito, bonito, é ler e ouvir os Senhores Ministros fazendo de justiceiros (o eterno faz de conta) que não passa deuma peça de teatro muito má. Ele foi o da administração interna. Ele foi o da segurança. E se mais houvera ( na grande área) mais diriam, claro está. Os sacrifícios são para todos. Ninguém pode estar fora dos sacrifícios. Será? Eles, ministros, também sofreram cortes nos vencimentos? Eles, ministros, também poupam nos gabinetes, nos carros, na luz e na electricidade? Claro que sim. Somos um povo (?) de crentes. Tão crentes, tão crentes, que até cremos que o país está melhor, mas as pessoas, ah! as pessoas, essas, estão pior. O País está melhor porque este ano choveu bem. E a água é indispensável para a lavoura, pois claro. Ainda que o contribuinte pague o couro e o cabelo pela água que consome, também em virtude das concessões brilhantes, como tantos outros contratos elaborados sempre, sempre tendo em vista o interesse público, pois claro: os swaps, as ppp, tantos e tantos que é simplesmente cansativo nomeá-los uma vez mais.

Mas nada disto é importante. Viva a República.

sábado, 8 de fevereiro de 2014

Praxeneta

A entrada de hoje é a reprodução de um artigo da minha filha Joana Barrios publicado na revista do Sol desta semana Tabu, onde colabora semanalmente. Só a imagem é outra. É com orgulho que reproduzo aqui o "Praxeneta". É um orgulho para qualquer pai ter uma filha que pensa e escreve bem.

"Acredito que a pertença acrítica e submissa a um grupo hierarquizado é o maior travão ao desenvolvimento do indivíduo enquanto ser pensante ou vice versa.
Não fui de uma tuna, não andei em nenhuma escola dotada de tuna. E dou graças por isso. 
Quando começam as aulas, há desfiles degradantes de adolescentes pelas ruas de todas as cidades que tiverem estabelecimentos de ensino superior, enquanto entoam cânticos absurdos, e bebem zurrapas de garrafas indistintas ou cerveja choca em copo de plástico.  As pessoas normalmente queixam-se do barulho que fazem estes desfiles e não do que neles está implícito. Os jovens que se costumam encontrar nestes preparos são sempre comandados por uns mais velhinhos, que demoram uma eternidade a tirar o curso, mas que no ambiente académico não parecem ter nada de errado.
Como não conheço nenhum elemento de nenhuma tuna, a minha opinião acerca desses ajuntamentos foi sempre negativa. Depois... Tudo aquilo que se ouve e lê, também não abona muito a favor dessas pessoas e/ou práticas e tudo piora um pouco.
Este ano lectivo a coisa correu muito, muito mal, e o que parecia ser apenas uma manifestação sazonal preocupante e socialmente tolerada de acefalia generalizada, incubável até às primeiras avaliações do ensino superior, assumiu contornos macabros. Não páram de surgir notícias sobre o assunto Meco com detalhes cada vez mais escabrosos acerca do que se terá passado na noite em que os seis caloiros foram arrastados pelo mar enquanto se submetiam às indicações de um Dux que continua em silêncio.
Infelizmente a sociedade não prepara os seus jovens para o exercício de juízo crítico. Quer seja na escola ou em casa, a infantilização e desresponsabilização dos jovens é uma realidade praticada por adultos superprotectores e por um sistema ao qual dá muito jeito que sejamos jovens (não pensantes) até mais tarde. A importância de usar a cabeça para pensar. De treinar cérebros que ainda não estão em fuga, não ter expressão. É pena.
Carneirada. Ou pertencer.
É tudo muito mais fácil quando se pertence seja ao que for (e para os puristas, sim, pertence-se sempre a alguma coisa).
Pertencer significa que há certas coisas que não vamos ter de fazer ou viver sozinhos (e é real: também ninguém ensina a estar sozinho), porque vai haver sempre uma estrutura solidária que ampara quedas. O crescimento conduz ao afastamento natural (e a um certo desprezo) do núcleo familiar e à construção de uma rede social própria, à medida do que somos. Essa rede pode definir-se por regime alimentar, estilo de música, profissão, desporto... E é extremamente importante encontrar pessoas que gostem das mesmas coisas, que falem a mesma língua, que funcionem como mentores extra-familiares. Nessas estruturas, há amigos. E há amizade e lealdade e consciência.
Se a adolescência é eterna e afinal ninguém se preocupa muito em ensinar a pensar, então isto vai continuar a correr mal. E não é a proibição nem a distanciação estética da morfologia trágica do traje, nem o medo imposto por acidentes anteriores que vai resolver esta questão cada vez mais polémica das praxes.
Era só treinar o cérebro para que fosse muito fácil discernir que obedecer às ordens de uma pessoa que anda a tirar um curso há duas décadas não deve ser lá grande charuto, ou que, mais que não seja, beber vinho mau dá ressacas ainda piores ou que a música das festas académicas é um lixo!?!
Se em qualquer tribo, os rituais de iniciação são acompanhados, sérios, respeitáveis, construtivos e implicam uma espécie de crescimento, porque é que nesta tribo das capas pretas, é tão comum a taxa de insucesso? 


Joana Barrios 

segunda-feira, 13 de janeiro de 2014

Rituais conformadores

No fim de semana passado teve lugar mais um Congresso do CDS/PP. Não teve grande cobertura noticiosa, apesar de se tratar da pomposamente chamada reunião magna de um dos partidos do governo. Ao jeito da mediocridade que polui irremediavelmente os meios de comunicação social, o que de mais interessante haveria a esperar deste congresso seria a explicação do seu Presidente Paulo Portas ( também vice-primeiro ministro) a respeito da "irrevogável demissão" e consequente crise de governo que protagonizou no verão passado. Assim, pelas expectativas dos Senhores Jornalistas, a coisa poderia bem ter ocorrido num simpático bar lisboeta, bebericando um gin tónico ou outra qualquer beberagem momentaneamente mais in. Ficámos a saber que a oposição interna ao reeleito PP, valerá aí uns 17%, que o Pires de Lima ( ministro tão aguardado como até agora perfeitamente ineficaz ou melhor, inócuo) entende que o seu PP ( sim, dele) é um bom candidato a Belém e que o Nuno Melo ( mais um génio de vocação europeia, como muita da tralha que por cá temos) deseja que o seu PP ( sim, dele) se mantenha por muitos anos à frente do partido. Esquecendo a lisonja que determinou estas e outras declarações, é evidente que as citadas são contraditórias! Ainda não é possível ir para Belém e continuar à frente do partido. Ainda não? Pelo menos formalmente. Mas é um bom lugar para fundar partidos, como fez o Eanes; é um bom lugar para chefiar a oposição aos governos, como fez o Mário Soares; é um bom lugar para proteger o seu partido, como fez o Sampaio e, segundo alguns, também o Cavaco. Por mim, acho que o Cavaco não fez nem desfez, não faz nem desfaz, não fará nem desfará. É um bugalho vazio, corrompido pela traça e sem utilidade. Mas enfim. Tudo isto para dizer que esta mistificação democrática que por cá, alegre ( arrenego...) e resignadamente vamos vivendo, precisa destes rituais conformadores como de pão para a boca. As marionetas deslocam-se de quando em vez a um pavilhão para ouvir o tão esperado discurso do lieder, perdida ou não já a esperança de lhe oferecerem um lugarito no conselho nacional, na comissão nacional, executiva ou homólogos. Claro que a deslocação vale a pena: sempre se vêem uns influentes. Pode acontecer que amanhã se venha a lembrar da careta pedonal e esperançosa. As palavras são como as cerejas. Afinal, porque será conformador o ritual? Porque todos os partidos e confrarias precisam de criar a ilusão de que os súbditos mandam. E quem exerce o poder, o faz estoicamente em nome dos súbditos, ainda que espoliados, pois claro. É assim em todo o lado. Mas há lugares onde os rituais são bem encenados, chegando a ilusão a atingir uma para-realidade interessante. Digna de reflexão, pelo menos. Próxima do mundo das ideias de Karl Popper. Não igual, convenhamos. Próxima. Mas outros...é confrangedor. Quem acreditará nos constantes e patéticos rituais da monarquia hereditária da Coreia do Norte? Ou nas percentagens eleitorais do país do Fidel & Irmão, sociedade em Comandita? E tantos, tantos outros. Os exemplos são apenas extremos patéticos. Por que a mediania está nos rituais que por cá vamos vivendo. Alegre (arrenego) e resignadamente. Qual será o segredo ou explicação que lá mais para a frente, todos nós ansiosamente esperaremos do Passos, também dito Coelho? E primeiro ministro, é bom não esquecer. Porque o respeitinho é essencial a todos os rituais. Seja de touca, seja de avental. Ambos os "acessórios" têm excelentes yields. Retorno, para os menos informados, pois então.