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domingo, 24 de agosto de 2014

Que beleza!

Dou comigo a ler este título espantosamente lúcido, no jornal : Julguei que Ricardo Salgado fosse um banqueiro acima de qualquer suspeita. Desiludiu-me. Não sei nem estou preocupado com a exactidão da frase. Ela é atribuída pelo jornalista ao Senhor Dr. Miguel Beleza, ex-governador do Banco de Portugal. Lembram-se? O mesmo que, há anos, apreciando o comportamento do Dr. Vitor Constâncio no caso BPN, disse isto: "Vitor Constâncio fez aquilo que deveria ser feito". Agora, e uma vez mais, dá largos elogios a quem dirige o supervisor, regulador, tudo o que se queira. Ou seja, o Senhor Dr. é cego, ou julga que todos nós somos cegos. Ou então, o seu espírito de adulação é tal, que está firmemente convencido da genialidade de todos quantos ocuparam e ocupam o bendito lugar de banqueiro, de supervisor de banqueiros, etc. etc.
Terá havido, nos últimos anos, algum grande escândalo financeiro, algum caso tresandando a ilegalidade financeira de milhões, onde o BES ou alguma sociedade do Grupo não estivessem envolvidos? Tudo o que veio a lume - e não é tudo, obviamente - tem a marca do BES e do Senhor Dr. Salgado, de quem Beleza é amigo, claro está.
Usaremos a síntese do jornalista João Miguel Diogo num artigo da Visão intitulado Como o SIS podia ter ajudado o BES:
"(...)  Façamos agora uma breve cronologia do caso BES. Agosto de 2005. O "Mensalão", um escândalo de corrupção que abalou o Brasil na primeira década deste século, traz o nome do BES na primeira página - como escreveu o DN "as investigações envolvem a PT no Brasil e o BES, para cujas contas se teriam transferido 600 milhões de dólares. Desse saco sairiam as avenças periódicas pagas para comprar o apoio ao partido de Lula da Silva no poder".
E há o caso "Portucale" com o abate ilegal de sobreiros; as contas no BES do ditador Chileno Pinochet; a Operação "Furacão", o edifício dos CTT em Coimbra, o BESI, o BES Angola, o Submarinos, a Escom, a "comissão" dada pelo construtor José Guilherme a Ricardo Salgado por "consultadoria" prestada em Angola pela qual o anterior senhor do BES pagou, apenas quando confrontado, mais de oito milhões de impostos; a inenarrável narrativa do empréstimo de 850 milhões da PT que custou a reputação da empresa de telecomunicações portuguesa junto da brasileira Oi. E há, claro, os financiamentos do BES na comunicação social, feitos à Ongoing (Diário Económico) e Controlinveste (DN, JN e TSF), que desde sempre se falou que seriam muito difíceis de rentabilizar. Mas talvez tenha sido o poder sobre a comunicação social que fez com que, em 2012, e ainda em Junho deste ano, a um mês da derrocada, o banco liderado por Ricardo Salgado tenha sido o único dos três maiores bancos privados portugueses a aumentar capital durante o reinado da troika recorrendo apenas aos acionistas e ao mercado de capitais, sem ter recorrido ao dinheiro dos contribuintes. Muitos sinais? Demasiados.(...)"
Temos assim e sem mais considerandos porque estes trampolineiros não merecem que percamos muito tempo: ou o Senhor é cego, ou anda nas núvens, ou não vive em Portugal, ou é um bluff e não vê um boi de economia e menos ainda de ética.
Não há pachorra. Este círculo de oportunistas são como putas e clientes defendendo-se e elogiando-se uns aos outros. A imagem é de João Pereira Coutinho a propósito dos jornalistas dos vários canais de televisão que passavam e passam a vida a entrevistarem-se para promoverem reciprocamente os respectivos programas. Mas nestes figurões encartados  da Banca parece que a imagem é ainda mais apropriada. Na verdade, na verdade lhe digo Sr. Dr. Beleza. O Senhor não me desilude. Nunca me desiludirá.

segunda-feira, 18 de agosto de 2014

A Banhos

A BANHOS *
"Uma das coisas a que temos de nos habituar enquanto cidadãos portugueses, é a assistir impotentes à utilização abusiva do espaço público por algumas entidades. Se os sucessivos cortes de vias públicas sem aviso prévio causam tantos transtornos aos que desejam circular livremente na cidade de Lisboa, imaginem só o que a praia artificial mais badalada do país fará aos moradores da freguesia de Santo António, em Lisboa.
No outrora desconhecido do grande público Jardim do Torel, o lago setecentista transformado em mar era até há bem pouco tempo um lago artificial cheio de verdete no meio de um terreiro inóspito, num piso urbano entre escadas, subidas, descidas e rampas, massacrado pelo sol que ali incide durante os longos dias de Verão. O miradouro  do jardim também não tinha nenhum bar da moda com DJs, muito menos rating no foursquare. O respeito não não oficial era tal que até a TimeOut se abstinha de o incluir em muitas das suas listagens de sítios cool e in e hip. Era apenas um lago num jardim entre escadas, subidas, descidas e rampas. Tal como todas as pérolas, o Jardim do Torel era um daqueles lugares portugueses absolutamente incríveis, mais ou menos sagrados e impossíveis de descobrir. 
Até que alguém se lembrou que aquilo de que Lisboa precisava mesmo em Agosto era de mais uma praia urbana, para juntar à da Ribeira das Naus. 
No caso de Lisboa, uma cidade à beira mar plantada, a necessidade real de uma praia dentro do perímetro urbano é quase nula, uma vez que a rede de transportes públicos da qual nos queixamos todo o ano até é capaz de levar o cidadão comum até uma praia com alguma rapidez e eficácia em qualquer altura do ano. Caso os transportes públicos não façam as delícias dos banhistas, existem sempre os carros próprios e os carros dos amigos, mais as motas próprias e as motas dos amigos. Para quem vive em Lisboa e até mesmo na sua área metropolitana, chegar a uma praia de verdade, é canja. 
No início pensei que fosse uma brincadeira de gosto duvidoso, esta da praia do Torel. Depois pensei que fosse uma coisa bem feita e gira, género iniciativa pioneira para que se fomente a limpeza de todas as fontes e lagos da cidade, para que Lisboa seja ainda mais maravilhosa aos olhos dos turistas que passeiam esbaforidos colina acima, colina abaixo, porque se Lisboa fosse uma cidade do interior da Europa, os banhos nas fontes e os dias quentes passados nas suas relvas circundantes seriam perfeitamente naturais, dada a impossibilidade geográfica que seria chegar a uma praia. 
Agora... Em Lisboa? Precisamente em Lisboa?!?
Um par de dias após a inauguração desta maravilha, e farta de ver as placas de um cor de rosa muito familiar que indicam a praia - não vá a gente perder-se - decidi chegar a casa pelo caminho do Jardim do Torel. 
Enquanto subia as escadas de um dos acessos ao jardim, e ciente que já estava da existência da praia e da sua lotação dentro de água, mesmo com a barulheira que se fazia ouvir, pensei por momentos que me iriam surgir no horizonte vinte e cinco esplendorosas Anitas Ekbergs para vinte e cinco galantes Marcellos Mastroianis. 
Só que não: à chegada ao cimo das escadas, a visão foi outra.
A praia é como todas as praias: grátis. Tem uma capacidade máxima dentro de água de, dizem, cinquenta pessoas. Tem sempre bandeira verde e conta com a presença de um nadador salvador certificado. Também tem um bar de apoio plantado numa área outrora “morta” do jardim, bem ao estilo português, que é como quem diz um quiosque de festival de Verão disponibilizado por uma marca de bebidas.  
Contemplado todo o cenário, achei que cinquenta pessoas dentro de uma fonte em Lisboa devia ser associação perigosa e percebi que o Fellini por detrás desta banhada era outro. Sem conseguir abrandar a passada por um único segundo para contemplar toda aquela mise en scène, a lotação pareceu-me quase esgotada por um mar de gente satisfeita. Daquele mar emergia um calmeirão molhado, que de um só movimento rápido e viril se sentou no rebordo da fonte para depois projectar um escarro igualmente perene para dentro da água prometida.  
Mesmo a talho de foice, já cá em cima perto de mais um vendedor ambulante, veio-me à cabeça o “brincar aos pobrezinhos” do ano passado. Afinal de contas, se os Espírito Santo têm a Herdade da Comporta, porque é que os Millennium não podem ter o Jardim Torel?"
·         Joana Barrios
      

       Nota; o artigo transcrito é da autoria da minha filha, Joana Barrios, que mantém uma coluna na revista do semanário Sol, a Tabú. Este foi publicado na última quinta-feira. Já não é a primeira vez que lhe peço autorização para a "republicar" neste blog. Como alguns concordarão - e outros nem por isso - é um orgulho ter uma filha lúcida, que escreve bem e com humor.
      Para além disso, talvez o seu artigo me tenha tirado da preguicite, incitando-me a escrever os poltriqueiros.




Trampolineiros

1-Títulos: para o objectivo pretendido, os alentejanos usam preferencialmente a palavra pantomineiro. No Norte utiliza-se com muita frequência  trampolineiro. Pantomineiro tem para mim uma "carga" sentimental: gosto de teatro; gosto muito da pantomina, enquanto forma de expressão corporal e não só. Vi há muitos anos Marcel Marceau e apaixonei-me por todos os mimos. Ora, compreenderão que tive de procurar outro termo para designar todos aqueles cucos que arribaram em Portugal, apropriaram-se de todos os ninhos bem situados e abocanharam - abicaram - tudo o que poderia dar rendimentos fáceis, espoliando a sociedade portuguesa de forma talvez nunca vista. Mais: inventaram criaturas, ditas políticos, que criaram os poleiros apropriados à espoliação desenfreada para partilharem das sinecuras.
2- Cansaço: BPN, BPP, BP, Banif, PP's, BES, GES e tralha  afim. São tantos, tantos os casos que se torna cansativo comentá-los. Há semanas que o BES não nos larga nos jornais, televisões e rádios. Muitos anos se passarão sem que nos largue nos bolsos. É um cansaço. Há anos que neste mesmo local, este escriba diz da  miséria destes figurões, designadamente do salgado ou insonso, porque soube "adquirir" laterais proptectores de todas as cores. Esperto o Figurão. Foi outra entrada neste blogue, já com anos, se não erro. Todavia, muito mais conhecedores e profundos, o Senhor Presidente da República, o PM, o Senhor Governador do BdP, todos eles e muitos mais ( os acólitos da ainda dita comunicação social), afiançaram a todos que o BES era sólido. Até tinha uma almofada financeira de 2 mil e quinhentos milhões. - os problemas eram do GES e não do BES, pois então -. Já então o BdP cujo governador, como Marco António is an honorable man, emprestara ao sólido Bes 3 mil e quinhentos milhões, ao que parece.São tantas, tantas, que é um cansaço comentar todas estas despudoradas obscenidades.
3- Regime: todos nós, portugueses, somos um pouco esquizofrénicos. Ainda bem que o somos. Morríamos de vergonha se não reinventassemos quotidianamente a nossa realidade. Como aguentaríamos nós esta choldra? - pobre D. Carlos! Tão criticado por uma expressão adequada a tanto do que aqui acontece e aqui se sedimenta. Um regime sem solução. A melhor ditadura é aquela que se veste de democracia. Titubeio a expressão de memória, sem qualquer preocupação de acertar com as palavras. Este último caso - para já, último - vem apenas confirmar que esta democracia está podre e empesta tudo aquilo em que tocou e continuará a empestar até que o nepotismno e a corrupção sejam extirpadas da sociedade portuguesa. Far-nos-ía bem um pouco de mérito e de decência, não? Com realismo, julgo que nunca irá acontecer. Os interesses do bloco central, centrão, arco da governação, o que se quaira, estão em todo o lado. Como lapas que só ácidos muito corrosivos poderão desalojar. Mas, sejamos crentes e um pouco esquizofrénicos. Talvez, talvez. Talvez esta democracia encontre meios de regeneração. Ou talvez se crie outro partido regenerador. Vade retro satanás.