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sexta-feira, 26 de novembro de 2021

A Geração mais preparada de sempre

De vez em quando lá temos que "levar" com esta laracha. Esta é a geração mais preparada de sempre. Não se sabe muito bem a que parcela dos vivos se referem os arautos. Talvez aos trintinhas, aos quarentinhas, aos cinquentões?Mas isso é o menos, de facto. Considerando a curso normal da vida e as próprias circunstâncias, seria suposto que a última geração fosse sempre a mais bem preparada. Todos os pais desejam, em princípio, que os filhos sejam melhores do que eles: tenham melhor preparação académica. mais oportunidades, relações sociais e profissionais mais favoráveis, etc. O sistema de ensino, determinante na evolução das sociedades, também deveria ser cada vez mais inclusivo e pedagogicamente melhor e mais apetrechado.
    Não é o caso, infelizmente, no que a Portugal diz respeito. Excluindo o facto de o sistema conseguir receber mais alunos, havendo menos de ano para ano, quase tudo o resto piorou. Piorou a qualidade dos docentes e a sua autoridade, apesar de disporem de meios tecnológicos cada vez mais sofisticados mas cuja insuficiência é objecto de constante reclamação. No ensino, como nas forças de segurança, como nos serviços públicos há sempre falta de meios humanos e materiais. Piorou a disciplina nas salas de aula, chegando ao ponto de muitos professores ultrajados e até agredidos moral e fisicamente por alunos esconderem a realidade para disfarçar a sua própria incompetência. Há menos desistências nos últimos tempos porque as escolas estão manietadas e, na prática, proibidas de reprovar. As universidades licenciam analfabetos porque o rigor passou a ser mal visto e os alunos, na sua maioria, tornaram-se preguiçosos copiando mediocridades da internet, não trabalhando e julgando que tudo lhes deve cair no regaço. Adoptando canhestramento o acordo de Bolonha, os cursos universitários pioraram, encurtando no tempo e aumentando nos graus. Em rigor, e como as licenciaturas nada valem como já disse e todos constatamos diariamente, as universidades vendem mestrados e doutoramentos.
    O país não forma técnicos. Velho problema agudizado pelo complexo do doutor, ainda que do cuspe e do giz, foram de pleno direito extinguidos os cursos técnicos e as envergonhadas tentativas de emendar a mão, em pouco ou nada têm resultado. Os casos espontâneos ( canalizadores, electricistas, carpinteiros e demais mesteres ) rapidamente conseguem emprego nas autarquias locais e outros serviços, de preferência públicos. À custa da sociedade civil, naturalmente. Emprego fixo, com regalias e uns ganchos aos fins de semana de quando em vez. O que pode haver de melhor? Por esse país fora, é um bico de obra conseguir mão qualificada ou não qualificada. Mas encontramos cafés cheios a qualquer hora, copos de três ou minis quanto baste. E não  são reformados, a maioria das vezes. Há bares por essas cidades fora especializadas em happy hours e é só vê-los, a geração mais preparada de sempre a largar garrafas de cerveja nos passeios e até em plena rua.
    Não para de aumentar o absentismo. Somos governados por papagaios zombies  eleitos por menos de metade dos portugueses. Todos se queixam, no momento, porque as preocupações democráticas ficam sempre bem aos serventuários que têm de exibir e honrar o cartão partidário. Mas o ministério da educação entende que os irmãos de Famalicão, bons alunos, devem reprovar por rejeitarem a doutrinação  embrulhada na "disciplina" de Cidadania e Desenvolvimento.
    Enfim, a geração mais bem preparada de sempre comunica mal oralmente e por escrito. Por isso aceita, conformada e agradecida essa monstruosidade que dá pelo nome de acordo ortográfico. Contesta a precariedade do emprego, mas tudo o que deseja é ser funcionário público. Por isso o país está condenado a ocupar a cauda da Europa, porque a nossa produtividade é miserável.
    Em suma: a geração maravilha de que falamos faz pouco, é conformista e resignada, deixa muito a desejar civicamente e caminha para o analfabetismo e para a miséria consultando sempre e com grande utilidade e desembaraço o inevitável smartfone. Vai, mi liga, tá?

 

quarta-feira, 10 de novembro de 2021

Precariedades: mistificações e realidade

De vez em quando alguém diz ou escreve coisas inteligentes. Mesmo em Portugal, imagine-se! Por isso pude ler há dias que um empresário, de seu nome Alexandre Relvas terá afirmado numa conferência que a economia portuguesa precisa de um choque de gestão. Para tanto, seria necessário que o salário mínimo se situasse o mais depressa possível entre os € 1000,00 e 1200,00. Aplaudo, sem reservas. O mesmo empresário teria também dito ser necessário compensar com mexidas na legislação laboral. Parece não ter concretizado tais mexidas. Mas eu avanço. É preciso mobilidade dos recursos humanos. Em todos os sentidos, designadamente como consequência de uma liberalização dos despedimentos. É sabido que a produtividade portuguesa é vergonhosa. Sem um aumento sério da produtividade, Portugal não passará da cepa torta. O grande escândalo nacional ( e não só) é a diferença intolerável entre o estatuto e vencimentos do sector privado e do sector público. Não só o vencimento médio do sector público é praticamente o dobro do vencimento do sector privado, como há privilégios que o sector público tem que o sector privado nunca poderá ter. Os meses do confinamento na pandemia foram disto exemplo indesmentível. A esquerda radical, que tem imposto uma agenda acéfalo ao PS e, por seu intermédio a todos nós, enche sistematicamente a boca com a situação dos chamados precários. É verdade que a precariedade nestas condições tem efeitos miseráveis. Mas a vida é e será cada vez mais precária. E não podemos parar a vida. Os empregos serão cada vez mais precários. É também escandaloso que se tenha facilitado o divórcio até ao ponto de o casamento ser um vínculo quase precário, e continuem a defender-se, no âmbito das relações laborais, vínculos cada vez mais difíceis de dissolver. Por ser difícil despedir é que os empresários se socorrem dos contratos a termo. O mesmo sucede, aliás, na função pública. Ora o choque de gestão deve passar por liberalizar os despedimentos no sector privado e também, com diferentes feições, nos sectores públicos: Estado, Regiões Autónomas, Autarquias locais e empresas criadas e geridas por esses entes púbicos. O Estado, as regiões autónomas e as autarquias fazem uma alocação de recursos humanos completamente estúpida. Todos sabemos isto. Todos temos conhecimento de sectores e empresas públicas ( lato sensu) que são ninhos pejados de pessoas funcionalmente dispensáveis. A inversa também é verdadeira. Há sectores onde falta pessoal competente e diligente. É verdadeiramente insuportável que esses entes públicos comprem votos, retirando à sociedade civil profissões que podem criar riqueza. O Estado e as Autarquias, por esse país fora, vivem dos impostos dos Portugueses e ainda "roubam" directamente à sociedade civil, os profissionais que poderiam criar riqueza.
Só há uma forma de acabar ou diminuir drasticamente os contratos a termo. É liberalizar os despedimentos. Com a certeza de algo que é evidente há muito, mas que se tornou flagrante nos últimos anos. Ninguém de bom senso despede um trabalhador zeloso e competente. Há falta de mão de obra qualificada. Nos últimos tempos há falta de mão de obra, qualificada ou não. Desde que o salário médio compense, como sucede por essa Europa fora, e permita a mobilidade dos trabalhadores, não há que ter medo dos despedimentos. Ninguém precisará de os recear a não ser, talvez, os incompetentes e preguiçosos que assim querem continuar. Com estes, a produtividade não melhora estejam eles em que sector estiverem. E é sabida esta verdade economicamente incontestável. A prazo, a massa salarial é sempre função da produtividade. Assim, sem o tal choque de gestão, continuaremos a percorrer a rampa descendente, ainda que de mão estendida para a mesma Europa e muito escandalizados com os ministros holandeses "repugnantes", segundo Costa. 
Integraremos sempre o carro vassoura dessa Europa a cujo nível de vida tanto aspiramos. Mas cheios de orgulho quando a equipa de futsal ganha o campeonato do mundo. Cheios de orgulho dos pequenos grandes feitos que atletas, cientistas ou gestores portugueses consigam. No estrangeiro, por via de regra.