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quinta-feira, 11 de junho de 2020

A pandemia do medo

Demitiu-se o ministro das Finanças Mário Centeno. Melhor: foi exonerado a seu pedido, conforme divulgação oficial. Com muitos encómios de várias latitudes. Por alguma razão dirigiu o chamado Eurogrupo, diz-se. Sou céptico relativamente à personagem. E nem sempre os cargos e funções na UE implicam grande competência, caracter e hombridade. Mas enfim. Que diminuíu os sistemáticos déficits nacionais, é inegável. Que se vangloriou de primeiro saldo positivo da democracia, não há qualquer dúvida. Aí fez coro com o primeiro ministro - naturalmente - e até com o Presidente da República. Naturalmente. Porque o inquilino de Belém faz coro com tudo e todos que ajudem a sublimar~lhe o ego. Outros dizem que o controlo das contas públicas se deve a vários truques contabilísticos, entre os quais as célebres e propaladas cativações.  E acrescentam já que tais cativações são da autoria "genial" do seu sucessor até aqui secretário de estado do orçamento. As cativações, da autoria de um ou dos dois, traduziram-se num verdadeiro desinvestimento em serviços públicos essenciais, como a saúde e a educação. A memória dos homens é curta. Há quatro meses, a situação era uma evidência. A pandemia tornou tudo muito distante. Todavia, o medo instigado por medidas avulsas, pouco coerentes e que dificilmente poderão ser revertidas - como se verá, infelizmente - ficam a dever-se apenas ao medo dos responsáveis pelo colapso do serviço nacional de saúde. Foi tudo para o COVID-19. Eu próprio experienciei esta triste realidade uma noite na urgência do Hospital de Évora. Há uma semana, um cardiologista do Hospital de Santa Maria confirmava-me esta mesma situação. O SNS colapsou mesmo, apesar dos mantos pouco diáfanos com que envolvem a realidade. Colapsou desnecessariamente, talvez. Dizia o cardiologista que, durante dois meses não houve doentes com problemas coronários graves, designadamente AVC's ou enfartes do miocárdio.  - Morreram em casa- afirmou. Não de coronavirus mas devido ao coronavirus. Devido ao medo que governantes impreparados mas arrogantes, instalaram numa população incauta e amestrada, pronta a prestar vassalagem a quem lhe retirou todas as liberdades. Até a liberdade de pensamento. Começamos a assistir à divulgação pelos meios de comunicação social desta sensação de pusilanimidade colectiva que tolheu e continua a tolher este pobre país incapaz de discernir a tempo a verdade no meio dos discursos inconsequentes que quotidianamente são derramados sobre o seu entendimento. Grave, verdadeiramente grave é o vírus do medo. Esta pandemia levará gerações a debelar. Não digo vencer. Apenas debelar. É triste, muito triste, verificar que gente jovem acata servilmente discursos medíocres que lhe roubam os mais elementares direitos e liberdades, instalando o medo e invocando despudoradamente o "direito à saúde." É triste, muito triste ver uma grande parte da população bater palmas a quem  nos tratou e trata como crianças ou como débeis mentais. Enfim, demitiu-se o Ministro das Finanças. Parece que foi uma exoneração anunciada desde que revelou ou teve de revelar que o Senhor Primeiro Ministro mentira quando afirmara no Parlamento  nada saber sobre mais uma transferência de 850 milhões de euros para o Novo Banco. Trata-se de uma costumeira apetência do senhor primeiro ministro. Nunca sabe nada. Não foi assim no caso Tancos? Não soube, não sabia, não sabe de nada. Como se a ignorância desculpabilizasse um governante que tinha e tem a obrigação de saber. Valha-nos Santo António, com sardinhas socialmente distanciadas. Vejam bem. 

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